Paul Brunton (1898-1981) dedicou sua vida às práticas, compreensão e realização de verdades espirituais. Durante sua vida pública, escreveu onze livros e viveu em todos os continentes, exceto na Antártica e, sem dúvida, lá teria sido um santo ou um sábio, se lá morasse. Ele também escreveu pensamentos diários em pequenos cadernos, entrevistou centenas de mestres, faquires, falsos gurus e santos em todo o mundo. Mesmo desencorajando as pessoas que queriam ser suas seguidoras, foi inevitável que muitas que a encontraram, acabaram tornando-se suas estudantes. Estes indivíduos afortunados receberam dele conselho e orientação, no momento apropriado e na ocasião apropriada. Por exemplo, quando alguém lhe pediu para abençoar seu novo restaurante, sua resposta foi: “Eu posso abençoar sua empresa, o que irá ajudá-lo a compreender a lição espiritual relacionada com seu negócio, mas se você quer que ele seja um sucesso, sugiro que você peça um conselho a um homem de negócios!”.
A medida em que Brunton crescia em estatura espiritual, buscava cada vez mais o anonimato, tanto que no momento em que alcançou a iluminação total (o estado conhecido na Índia como “sahaja”), no início dos anos 60, encontrava-se praticamente esquecido pelo público. Embora não colocasse ênfase ao “culto da personalidade”, ele valorizava muito a divulgação livre e aberta dos mais profundos ensinamentos, os mais preciosos que o mundo tinha para oferecer. Para este fim, entregou sua vida à tarefa de criar um caminho espiritual adequado para o mundo acelerado do século 21- caminho este apontado para nós, na forma dos Notebooks de Paul Brunton. Nestes notáveis volumes, o leitor encontrará uma mistura de sua própria visão interior com as antigas tradições e ensinamentos da Filosofia Contemporânea. Uma Filosofia que expressa o sentido real da palavra “Amor-Sabedoria”, que é o Amor, combinado com a Sabedoria, levando-nos, finalmente, para a sabedoria da Mente-Solitária e ao amor de nosso próprio ser superior, o Eu Superior.
A vida de Paul Brunton desenvolveu-se em quatro fases diferentes: O começo de sua jornada, sua notoriedade como especialista dos ensinamentos do Oriente, seu esforço em modernizar a filosofia perene para melhor compreensão dos seguidores no Ocidente e seus últimos anos, os quais passou imerso no silêncio impessoal da Mente. Tentar medir qualquer filósofo por seus passos iniciais é um erro. Não é tanto como eles começam, nem mesmo como terminam, o que importa. A verdade que eles promovem é para ser encontrada em sua jornada e nos ensinamentos que eles representam. O próprio Brunton teve esse “insight” na década de 1940, quando abandonou sua série “Search in Secret” … e voltou sua mente – e caneta – para as maiores alturas da epistemologia e da metafísica. Colocar nossa atenção em sua infância e em seus esforços juvenis é tentador, porque essas são as fases com as quais podemos nos relacionar sem muito esforço, porém direcionar nosso interesse para assuntos mais altos, níveis mais sublimes, exige mais atenção e esforço de nossa parte. Esse esforço nos recompensará com “insights” sobre nossos próprios eus e sobre a austeridade extática da Verdade.
Então, vamos rever brevemente a vida de Brunton, começando pelo seu nascimento. No momento em que assim o fazemos, nos deparamos com sua forte propensão à privacidade, pois ao longo de sua vida, PB, (como ele mesmo passou a referir-se mais tarde), indicou como data de seu aniversário o dia 27/11/1898, embora em breve pesquisa pela internet encontramos uma segunda data: 21/10/1898 (considerada a real). PB disse que haviam duas razões pelas quais ele indicou uma falsa data de aniversário (27/11/1898): política e oculta. Durante o final do Raj britânico, ambos os governos, britânico e indiano, suspeitaram que ele estivesse espionando para o outro lado – uma atividade na qual ele não tinha interesse. Por isso, ele precaveu-se, viajando sob seu “nom-de-plume” (seu nome de escritor) – incluindo uma nova data de nascimento! Outro motivo para isso, seria o perigo da influência negativa da magia e do ocultismo que prevalecia entre os buscadores durante os primeiros anos da vida pública de PB, quando ele era uma figura bem conhecida nos círculos místicos. Ele pouco se importava com o significado biográfico de seu aniversário, mas sim, com o fato de que seu horóscopo não caisse em mãos hostis. Assim sendo, ao longo de toda sua vida, ele manteve publicamente, como a data de nascimento em novembro. No entanto, quando seu filho e herdeiros literários pediram a sua data de nascimento, ele afirmou que era 21 de outubro de 1898. Daí em diante, passamos a nos referir a esta data como sendo a de seu aniversário.
Portanto, o indivíduo que conhecemos como Paul Brunton começou sua vida com o nome de Raphael Hurst, no dia 21 de outubro de 1898, em Londres. Ele cresceu no bairro Cockney de Londres. Sua mãe morreu quando ele ainda era muito jovem e seu pai casou-se novamente, sendo que sua nova esposa, através de sua irmã, a qual veio morar junto com eles, trouxe para o seio da família as idéias da Ciência Cristã (Christian Science). PB comentou mais tarde que uma delas era médica e, muito bem-sucedida, curou muitas pessoas, enquanto sofreu a sua vida inteira com problemas de saúde. Talvez viver essa experiência do poder da mente sobre a matéria, e também o óbvio fracasso dessa mesma “lei”, tenha contribuído para o interesse de PB pelo ocultismo e pela obtenção de uma compreensão mais profunda da verdade e das leis que regem a nossa existência.
Após isso, o que ouvimos falar de PB foi escrito por ele mesmo. Isto é o que ele nos diz: “Antes de chegar à idade viril, e após seis meses de prática continua e diária de meditação e dezoito meses de ardente aspiração pelo Eu Espiritual, eu passei por uma série de êxtases místicos. Durante essa fase atingi uma espécie de consciência elementar Dele. Se alguém pudesse imaginar uma consciência que não objetiva nada, mas permanece em sua própria pureza nativa, uma felicidade tal que é impossível ir além, e um ser que é invariavelmente um e sempre o mesmo, ele teria a idéia correta do Eu Superior… (Notebooks 12.1.2).” Essa experiência aconteceu por volta de seu décimo sexto ano de vida, o que teria coincidido com o início da Primeira Guerra Mundial em 1914 (PB serviu no exército britânico, no esquadrão em carro blindado, durante os anos 1917-18). Durante seus primeiros vinte anos, envolveu-se ativamente com almas afins, interessadas em explorar o obscuro, o oculto e o misticismo do extremo Oriente.
Foi nessa época que Paul Brunton encontrou seus três primeiros professores: Allan Bennett (Charles Henry – foto à esquerda), também conhecido como Bhikkhu Ananda Metteyya, o indiano não identificado que PB se refere nos capítulos de abertura do livro “A Índia Secreta” como “o Rajah”, e um pintor americano chamado Thurston, que também esteve envolvido com o ocultismo. PB não costumava falar muito sobre “o Rajah” ou Thurston, muito provavelmente, por solicitação dos mesmos. É sabido que o segundo nome de seu filho Kenneth,Thurston, lhe foi dado em homenagem a este pintor misterioso. Espalhadas por todas a notas de PB escritas nesse período de tempo, há referências a um “M”; quando consultado a respeito de quem era ele, PB declarou firmemente que essa pessoa não era nem Thurston, nem o Rajah, nem Sri Ramana Maharshi, nem qualquer outra pessoa referida anteriormente em seus livros ou anotações.
PB participou brevemente da Sociedade Teosófica (Adyar, América). Durante e, imediatamente, após a Primeira Guerra Mundial ele participou de muitas reuniões em Londres, realizadas por uma infinidade de grupos ocultistas ativos naquela cidade. Seu aprendizado com Allan Bennett proporcionou-lhe ter conhecimento das atividades da Ordem do Golden Dawn (hermética), da qual o próprio Bennett era um membro importante. Durante esse período, PB fez muitas amizades, e com seu amigo Michael Houghton abriu uma livraria, que infelizmente, não durou muito mais do que alguns meses, depois de sua aberta. Nessa época, os dois amigos alugaram um apartamento em Tavistock Square (foto à direita), o qual estava destinado, alguns anos mais tarde, a ser a primeira casa de uma empresa de publicação de muito sucesso, The Hogarth Press, executado por Virginia Woolf e seu esposo. Em 1922, Houghton abriu A Atlantis Bookshop em Bloomsbury, que ainda hoje está em funcionamento. Em 1927, Houghton escreveu e publicou um livro chamado “O irmão Branco: Uma Autobiografia Oculta” sob o pseudônimo de Michael Juste, o qual descreve a história de um personagem chamado “David”, inspirado e baseado em Brunton.
Aos 24 anos, durante o ano de 1922, Brunton casou-se com Karen Tottrup (foto à esquerda), e seu único filho, Kenneth Thurston Hurst (foto à direita) nasceu no ano seguinte, em 1923. Nesse mesmo ano, ele também perdeu Allan Bennett, que morreu aos 51 anos, depois da batalha que se extendeu durante toda sua vida, com a saúde debilitada. Alguns anos mais tarde, seu casamento chegou ao fim e, posteriormente, seu filho Kenneth, foi criado por sua mãe e seu padrasto, Leonard Gill. PB sempre manteve relações amigáveis com a família e, como indica o livro de Hurts’s, “Uma Visão Pessoal”, no devido tempo, ele mesmo (seu filho) veio a ser um dos seus estudantes.
Foi durante este período – o que não é de se admirar – dadas as mudanças externas da vida de Brunton, que o fascínio pelo puramente oculto logo desapareceu, e ele deu início a uma Jornada em águas mais profundas do misticismo e daí para a filosofia. Esta busca levou-o para longe da Inglaterra e para o mundo então desconhecido no Sagrado Oriente.
Foi também nessse período que Brunton praticou avidamente o vegetarianismo e a meditação. Estas duas práticas fundamentavam o seu estilo de vida e ele recomendava a todos essas disciplinas, considerando que eram fundamentais e, não opcionais. Todavia, em relação a praticamente qualquer outra disciplina associada com o caminho espiritual, PB enfatizava o equilíbrio e o bom senso, aconselhando as pessoas, de acordo com as suas próprias necessidades individuais, ao invés de adotar uma regra rígida e inflexível. PB preferia dieta vegana à vegetariana e, ao longo de sua vida, manteve suas raízes britânicas, preferindo mais chá do que café. À medida que envelhecia, suas preferências tornaram-se cada vez mais sutis, tendendo para legumes levemente cozidos no vapor e chá verde suave.
Enquanto viajava pelo Extremo e Médio Oriente, Paul Brunton entrevistou, literalmente, centenas de místicos, gurus, mestre, faquires e mágicos; todos e qualquer um que estivesse envolvido com a exploração dos mundos do espírito e da mente. Ele fez isso sem nenhum julgamento, e criticou apenas os grandes impostores que exploravam os mais ingênuos e inocentes. Aos poucos, sua atenção atenção voltou-se para o sub-continente indiano, onde buscou por um mestre espiritual, aquele que o ensinasse o caminho para a iluminação. Essa viagem foi narrada, quase em sua totalidade, em seu livro “A Índia Secreta”, que se tornou um “best seller”. Este livro descreve sua chegada no Asharam de Sri Ramana Maharshi (foto à esquerda) e o tempo que passou aos pés daquele sábio reverenciado.
Durante o período que esteve com Ramana, Paul Brunton aprendeu e dominou a técnica da meditação “Quem Sou Eu”, e assim alcançou um grau aprofundado de auto-consciência. No entanto, ele não se satisfez com isso, desejava entender o “porquê” e o “como” desta técnica; isso levou-o a peritos do Vedanta, como V. Subramanya Iyer (foto à direita), com quem estudou a literatura clássica da filosofia hindu, como o Ashtavakra Samhita, o Bhagavad Gîta e o Mandukya Upanishad. Foi durante suas conversas com V. S. Iyer que PB começou a desenvolver seu próprio vocabulário não-sectário, em princípios espirituais básicos. Assim, começou a escrever sobre o “Eu Superior”, em vez de Adhyâtman e Alma, “Mente-do-Mundo”, em vez de Deus ou Ishvara, e “Mente” em vez de Brahman ou o Único.
Esta mudança marcou o fim do aprendizado de PB e o início de sua jornada independente. Essa viagem o levou às profundezas de si mesmo e o levou a viajar para todo o mundo. Assim sendo, ele visitou a China, México, Estados Unidos, muitos países na Europa, Egito, Japão, Ceilão, Tailândia, Camboja, Nova Zelândia, Austrália e América do Sul (além de outros que desconhecemos). Uma amostra destes anos de viajem pode ser encontrada em seus dois diários de viajem, ambos publicados em 1936 (como o livro “A Mensagem de Arunachala”), que são: “O Egito Secreto” e “Um Eremita no Himalaia”, bem como em seus Notebooks, onde ele deu continuidade à sua crônica, relatando as entrevistas no Ocidente bem como no Oriente. A medida em que viajava externa e internamente, percebeu que a força motriz de sua vida era compartir os mistérios ocultos do misticismo e filosofia aos buscadores modernos, sem hipérboles desnecessárias, jargões, obscuro esoterismo e requisitos desnecessários.
Como ele diz em suas notas, “A idade do esoterismo chegou ao fim, e a idade do ensino disponível a todos está diante de nós.” (Notebooks 20.2.3). Para esse fim, PB traduziu os ensinamentos da Índia, Tibet e China, sintetizando de forma simples os pontos centrais e as práticas destinadas a dar aos buscadores espirituais uma base sólida para a sua busca, independentemente do caminho que fossem escolher no futuro. Ele coletou as práticas de meditação antiga dos ashrams e as adaptou para que pudessem atender as necessidades dos cidadãos comuns. Algumas práticas antigas tinham como objetivo estimuar a sensibilidade das pessoas em relação ao seu meio ambiente, sendo perfeitas se você estivesse vivendo em reclusão, mas inapropriada para os dias de hoje, quando a população vive em cidades barulhentas e tem os “nervos à flor da pele”. Assim sendo, Paul Brunton selecionou e ofereceu técnicas de meditação que acalmam os nervos e nos protegem deste mundo barulhento, no qual a maioria de nós habita. Estas práticas de meditação podem ser encontradas nos livros, “O Caminho Secreto”, “A Realidade Interna”,”A Busca do Eu Superior” e nos volumes 4 e 15 dos “Notebooks de Paul Brunton”. O livro “A Realidade Interna” (1939), que mais tarde foi chamado “Descobrindo seu Ser”, foi escrito com a intenção de criar uma ponte entre as religiões orientais e ocidentais. Em seguida, PB voltou sua atenção total para a tarefa de apresentar os fundamentos de uma filosofia verdadeiramente espiritual, em uma linguagem moderna no idioma mais falado em quase todo o mundo: o Inglês.
Brunton foi um dos primeiros autores a submeter as doutrinas orientais à metodologia científica, ao mesmo tempo em que desafiava a ciência a olhar além de sua tecnologia para os verdadeiros mistérios da vida. Ele queria ligar ciência e misticismo, e integrar as realizações da filosofia ocidental com as percepções do hinduísmo e do budismo. O primeiro resultado desse esforço foi sua Tese de Ph.D. 1938 (Filosofia Indiana e Cultura Moderna), publicado pela Rider e E.P. Dutton em 1939, seguido pelo “Ensinamento Oculto Além da Ioga” em 1941, que aborda as questões da epistemologia através da lente dupla da ciência moderna e dos inquéritos fundamentados do antigo Leste. Então, dois anos mais tarde, ele concluiu esse projeto com seu opus metafísico, “A Sabedoria do Eu Superior”. Seus pensamentos posteriores sobre estes temas podem ser encontrados no Volume 13 dos “Notebooks”.
Curiosamente, nessa época, em que escreveu esse livro, PB vivia no mesmo apartamento que havia sido ocupado por Helena Petrovna Blavatsky, quando ela estava escrevendo seu grande trabalho, A Doutrina Secreta. “Então, PB estava seguindo a HPB”, uma vez ele mesmo disse isso brincando.
Pode valer a pena fazermos uma pausa por um momento e olharmos ao redor para compreendermos o que se passava no mundo durante a época em que estes livros estavam sendo publicados. Naquele momento, a Segunda Guerra Mundial havia iniciado na Europa e Hitler estava no poder na Alemanha, período durante o qual as atrocidades contra os judeus, ciganos e outros foram protocolos do Reich alemão bem estabelecido. Na verdade, quando “A Realidade Interna” foi para as livrarias, o povo da Grã-Bretanha estava experimentando ataques aéreos noturnos da Luftwaffe alemã, resultando em caos generalizado e perda de vidas. Considere então a forte necessidade das pessoas daquele tempo, as quais tentavam encontrar uma explicação para o sofrimento e para o caos ao seu redor, e para encontrar qualquer meio de lidar com os horrores inimagináveis e as incertezas de seu ambiente. A presença da morte, do mal e da dúvida ofuscava todos os aspectos da vida e todos os níveis da sociedade. Ninguém estava imune e ninguém poderia ficar alheio. Então, encontravam nesses livros a confirmação direta e lógica daquilo que todo mundo precisava saber, que é a salvação do espírito – que sobrevivemos à morte – que existe um ser divino e impessoal, e que a sua presença pode ser encontrada aqui e agora, e que a vida tem tanto um propósito imediato como transcendental. Esta foi a contribuição inspirada de PB para o mundo, a contribuição que permanece relevante até os dias de hoje.
Os três livros, A Busca do Eu Superior, O Ensinamento Oculto Além da Yoga e A Sabedoria do Eu Superior fala sobre mentalismo, metafísica e assim estabeleceu a base para a própria jornada interior dos leitors de forma independente – e além do Eu mais Elevado, o Eu Superior. Começando com a compreensão necessária de nós mesmos e como nossa mente funciona, PB, em seguida, nos guiou nos mistérios completos da Mente Absoluta e seu aspecto exterior e criativo, a Mente-do-Mundo. Para aqueles familiarizados com os grandes pensadores do hinduísmo e do budismo, muitos dos pontos de Brunton serão bastante familiares; seu valor é então, sua apresentação livre de dogmas. Você pode estudar de forma confiável estes textos como um eclético ou como um candidato ortodoxo; eles são feitos como “manuais do usuário” para imediata e transcendente realidade das quais se pode fazer parte integrante. Em todos os casos, Brunton queria inspirar e estimular seus leitores a aprofundar a sua própria busca e pensar por si mesmos. Ele não desejava ter discípulos ou estabelecer um “movimento Brunton”, na medida em que ele preferia que seus editores mantivessem o foco sobre as ideias e questões de filosofia, não na sua própria personalidade carismática.
Depois de concluir esses livros, Brunton continuou a viajar pelo mundo pelas próximas duas décadas antes de finalmente se estabelecer na Suíça. Durante esse tempo, PB continuou a escrever, dar palestras e entrevistas pessoais por toda a América, Europa, Ásia e Austrália. Seu último livro, A Crise Espiritual do Homem, foi publicado em 1952. Depois disso, PB reservou todas as outras notas inspiradas que escreveu para publicação póstuma. Nesse mesmo ano, casou-se com Evangeline Yong, permanecendo casado com ela, até o momento em que sua vida interior, mais uma vez, solicitou um período de solidão quase absoluto. Logo após, depois que esse período de solidão foi concluído, PB manteve uma relação fraterna com Evangeline e sua família, que perdurou até os últimos dias de sua vida.
Durante este período, seu filho, Kenneth Hurst, mudou-se para a América, enquanto PB entrava em contato com um de seus alunos mais importantes, Anthony Damiani (foto à esquerda), em Nova York, e, também, com Roy Burkhart, em Columbus, Ohio. O resultado destes dois encontros foi a formação de grupos de estudo em Nova York e Ohio. Outro grupo, foi formado na Tchecoslováquia, durante uma época em que possuir um livro espiritual era uma escolha perigosa, por causa do governo ateu e comunista. Finalmente, chegou a hora de Brunton retirar-se do mundo para realizar sua jornada interior. Isso exigiu que se isolasse de quase todos que o conheciam, sendo assim, ele foi para a Austrália e Nova Zelândia, lá permanecendo por alguns anos.
Quando a fase final da realização espiritual foi superada, o ego foi derrotado e, portanto, o andarilho espiritual assumiu a sua “morada celestial”, como Anthony costumava dizer. Isso não era um comentário casual por parte de Anthony, porque Paul Brunton havia alcançado, com certeza, este estado extraordinário chamado de “Sahaja” pelos hindus. Como ele mesmo disse, o estado de Sahaja não é um estado de conhecer a realidade, mas um estado de ser a realidade – em outras palavras, de ser Realizado. Quando Anthony disse que PB tinha um endereço celestial, o que ele quis dizer era que PB havia transferido sua identidade, do reino passageiro da manifestação para o reino eterno do ser. Portanto, não o “Céu” da tradição cristã, mas os Céus da cosmologia Grega e Hindu.
Com esta crescente impessoalidade, tornou-se mais natural referir-se a ele como PB, em vez de “Paul Brunton”, pois havia pouco do que comumente experimentamos como uma pessoa ou personalidade presente nele. Na verdade, quando na presença do poderoso silêncio em torno dele, esta qualificação parecia tão natural, como se houvesse um ar esmagador de um “outro” ao redor dele, um grande afastamento que às vezes era bastante inquietante. Em outros momentos, ele irradiava uma espécie de paz benigna que atraia estranhos para perto dele. Por exemplo, quando ele foi para o hospital fazer uma pequena cirurgia, um de seus estudantes foi ao seu quarto durante o pôr-do-sol, e encontrou o quarto lotado de enfermeiros, atendentes e outras pessoas do hospital, “somente porque gostavam de ficar perto dele”, enquanto ele, sentado, contemplava o sol poente.
Embora PB tivesse recebido muitos convites para viver nos Estados Unidos e em outras partes da Europa, ele estabeleceu-se na Suíça. Isto se deu, em parte devido ao seu amor pela área rural e as montanhas, como também pela importância política. Durante os últimos anos de sua vida, PB viveu em Lucerna, Zurique, Montreux e Vevey, e sua última residência foi na pequena aldeia de La Tour de Peilz. Embora distanciado e retirado dos olhos do público, PB continuou a manter estreita vigilância sobre os acontecimentos do mundo, e sua escolha pela Suíça permitiu-lhe acesso discreto a vários políticos e líderes mundiais que iam visitá-lo, enquanto iam e vinham, para reuniões das Nações Unidas, em Genebra.
Mesmo após PB anunciar sua aposentadoria, continuou a receber seus alunos e a escrever em seus Notebooks. De seus outros trabalhos – suas pesquisas interiores – ele era reticente em falar. Enquanto PB continuava a empregar termos simples para os ensinamentos profundos em seus últimos escritos, ele também prosseguiu nos seus estudos e investigações sobre as muitas tradições e doutrinas do mundo.
Mesmo em seus últimos anos, estava em contato com Sua Santidade o 69º Shankaracharya e com Sua Santidade o Dalai Lama e com José Trigueirinho Netto, enquanto suas leituras de cabeceira consistiam em textos de Plotino, Maritan, revistas científicas, publicações trimestrais ocultistas, artigos jesuíticos, textos tibetanos e os Upanishads.
Paul Brunton morreu no dia 27 de julho de 1981, com Paul Cash e seu filho Kenneth Hurst ao seu lado. Ele morreu como viveu: em paz e privacidade, com um sorriso irônico nos lábios. Seus efeitos literários, várias prateleiras dos Notebooks, ele deixou em posse de seu filho Kenneth Hurst. Porém a responsabilidade de decisão sobre o destino do material dos Notebooks, foram dados aos alunos Anthony Damiani, Paul Cash e Timothy Smith (os quais haviam sido secretários de PB em seus anos derradeiros). No início, a tarefa de classificar estes Cadernos e as ideias deslumbrantes contidas nos mesmos foram guiados pelo principal estudante de PB, Anthony Damiani; infelizmente ele morreu apenas alguns anos mais tarde do que PB, em 1984. Porém sobreviveu tempo suficiente para ver a publicação do volume Perspectivas, realizado pelos voluntários do Wisdom’s Goldenrod Center e com o generoso apoio da Larson Publications. Alguns anos mais tarde, a Fundação Filosófica Paul Brunton foi formada para assegurar a publicação completa dos Notebooks de Paul Brunton, como também, apresentar ao público as idéias expressadas em sua obra. A tarefa de fazer os Notebooks levou centenas de horas e foi realizada por mais de quarenta voluntários, durante os anos de 1980 a 1989. Desde então, a PBPF tem se dedicado a difundir as ideias e pontos de vista de PB, dando apoio a todos que, ao redor do mundo, encontram sua notável obra.
No final, nós não temos como contar a história de Paul Brunton, nem devemos fazê-lo. Aqueles que estiverem interessados na história de PB – deveriam escutar suas repetidas advertências para que dirigíssemos nossa atenção para os aspectos importantes da vida espiritual, e evitar o culto da personalidade. Assim como Ramana Maharshi refutou todas as perguntas, com a apropriada orientação de que encontrassemos primeiro a resposta para a pergunta “Quem Sou Eu”, antes de mais nada. Assim, também com PB, devemos primeiro entender seus ensinamentos, começando com A Índia Secreta e concluindo com a série extraordinária dos Notebooks. Esses ensinamentos, como os de todos os grandes filósofos, durarão mais que a história de sua vida e, as verdades que fundamentaram, tanto os ensinamentos, como sua própria vida, estarão diretamente disponíveis para todos nós, e devemos ter a dedicação, o treinamento e a Graça de entrar em sua esfera.