Meditación, Capítulo 4 – Perspectivas

A verdade de que se necessita para uso imediato e provisional pode ser aprendida em livros e com instrutores; mas a verdade da revelação última só pode ser aprendida a partir da própria pessoa e dentro dela, através da meditação.

O verdadeiro estado de meditação é alcançado quando existe a percepção da percepção, sem a intrusão de quaisquer pensamentos. Mas essa não é a condição última. Além dela há o estágio em que toda a percepção desvanece sem a perda total de consciência que isso normalmente traz.

A meditação é meramente uma forma de prática simples, que a maioria dos ocidentais não compreende por não estar muito familiarizada com ela. Que poderia ser mais simples do que dizer isto: se você olhar dentro do seu coração e da sua mente de forma suficientemente profunda e durante um tempo suficientemente longo, para penetrar abaixo do tumulto de desejos que diariamente distraem sua atenção, você poderá então descobrir a paz.

A meditação é um meio de desviar a atenção de seus objetos sempre mutáveis, capacitando então a força mental assim libertada a estudar sua própria origem.

Quando a mente está distraída pelo ambiente à sua volta, fica impedida de perceber a si mesma. Isso é fácil de se compreender. Quando está distraída pelo corpo, está também impedida de obter essa percepção. Isso é um pouco mais difícil, mas ainda possível de se compreender. Mas quando a mente é desviada, pelos seus próprios pensamentos, de cuidar de si mesma, esta é, de todas as situações, a mais difícil de ser compreendida.

Uma ajuda é bhakti, o amor. O amor é essencial à meditação; é uma força de coesão que consiste em devoção e reverência. O objetivo é tornar-se unido. O êxito na meditação é tornar-se um com o Eu Superior (a unidade). A meditação deve ser um profundo anseio para se retomar ao lar, ao lugar que lhe pertence no universo.

A meditação terá sido realizada com êxito quando todos os pensamentos se extinguirem, e quando a presença da Divindade for sentida dentro desse vazio.

Essas diferentes fases da meditação são, na verdade, graus de penetração nas várias camadas da mente. A maioria das pessoas pára em diferentes pontos durante o proceso de atingir o objetivo final da meditação e poucas mostram paciência ou habilidade para seu curso completo.

Estágios da meditação

O primeiro estágio da meditação é a tentativa de evitar que a atenção vagueie, fixando–a numa ideia ou numa linha de ideias. O próximo estágio é retirar sua atenção do ambiente físico entorno, tanto quanto possível. A terceira é elevar o objeto do pensamento a um plano abstrato e não físico, sendo absorvido por ele. A quarta etapa é um ponto de inflexão. Abandone os pensamentos, descanse em silêncio mental.

Os estágios para o aprofundamento da meditação podem ser progressivamente diferenciados uns dos outros, desta maneira: primeiro, uma tentativa de fixar os pensamentos emu ma aspiração ou um objeto, a qual se dá de forma débil e vaga; segundo, uma retirada geral da atenção das coisas externas em sua volta; terceiro, uma concentração definida, mas intermitente de pensamentos sobre a aspiração ou o objeto; quarto, uma concentração contínua e ininterrupta sobre o mesmo; quinto, o objeto saiu de foco, mas o estado de concentração ainda foi mantido com sucesso em pura autocontemplação.

O terceiro estágio é alcançado com sucesso quando ele se esquece do mundo exterior, quando não o vê, nem o toca, nem o ouve ou percebe odores , quando a memória e a personalidade se dissolvem no vácuo, enquanto a atenção é total e completamente absorvida no pensamento do Eu Superior e identidade com o Ele.

O vazio não é o objetivo

Um mero esvaziamento da mente não é suficiente, não é o objetivo dessas práticas. Alguns idiotas possuem isso naturalmente, mas não possuem a sabedoria do Eu Superior, a compreensão de Quem e o Que são.

A filosofia não ensina as pessoas a anularem suas mentes; não diz “esvaziem-se de todos os pensamentos e se tomem inertes e passivos.” Ensina a redução de toda a atividade do pensamento a um único pensamento-semente, e esse pensamento será uma pergunta como “O que Sou Eu?” ou uma afirmação como ” O divino está comigo”. É verdade que o despertar da consciência do Eu Superior significará, na primeira delicada experiência, o encerramento dos últimos pensamentos, a extrema imobilidade da mente. Mas esse estágio passará. Repetir-se-á novamente sempre que a pessoa mergulhar no transe mais profundo, na absorção meditativa de maior enlevo. E deve então vir por si mesmo, induzido pela graça do eu mais elevado e não pela força do eu inferior. Por outro lado, a mera anulação mental é uma condição arriscada, a ser evitada pelas pessoas prudentes que buscam o caminho. Ela envolve o risco da mediunidade e de se ser possuído.

A vacuidade da mente não deve ser confundida com a percepção da realidade.

Buscar o vazio mental como principal objetivo é confundir o efeito pela causa. É verdade que alguns dos iogues inferiores o fazem, tentando por meios forçados como a supressão da respiração, retirar todos os pensamentos da mente. Mas isso não é defendido pela filosofia.

Tentar a eliminação de todos os pensamentos à medida que eles surgem, com o objetivo de manter a consciência inteiramente vazia de todo o conteúdo, é outro método que alguns iogues e não poucos ocidentais tentam praticar. Não é tão fácil quanto parece e nem sempre o método tem sucesso. A filosofia não usa esse método precipitado, não recomenda deixar a mente apenas em branco. Existem dois perigos nisso. O primeiro é que deixa o homem aberto à invasão psíquica que vem de fora dele ou, na ausência desta, àquela dentro de si mesmo. No primeiro caso, ele se torna um médium espírita, que passivamente se entrega a qualquer entidade invisível que possa passar pela porta deixada aberta, e corre o risco de ser possuído por essa entidade. Pode esta ser terrestre, tola, mentirosa ou maligna, na pior das hipóteses. No segundo caso, ele libera os controles do eu consciente e deixa nele forças que há muito superou, mas não eliminou totalmente – eus do passado que estão morrendo e seria melhor deixar em paz, impulsos subconscientes que levam ao mal ou alucinações insanas mascarando-se como percepções ou poderes ocultos. Bem, é correto dizer que a mente deve ser completamente dominada e que um vácuo surgirá no processo, mas ainda não é a maneira de fazê-lo. A melhor maneira é focalizar a mente tão firmemente em alguma coisa, pensamento ou imagem ou frase, tão elevado que um ponto será alcançado onde o próprio eu superior de repente oblitera os pensamentos.

O silêncio da meditação é algo digno, mas o silêncio de uma mente vazia e estúpida não o é.

O simples fato de alguém não ter pensamentos pode levar a resultados psíquicos. É preciso mergulhar e volta-la a um silêncio mental positivo e dinâmico, começando a meditação com uma atitude positiva dinâmica.

Eliminar pensamentos e eliminar o ego durante a meditação são duas coisas diferentes. Você deve experimentar os vários métodos fornecidos nos livros se quiser saber qual o ajudará mais.

Su Tung Po: “As pessoas que não entendem às vezes descrevem um estado de inconsciência animal como o estado de samadhi. Nesse caso, quando cães e gatos dormem depois de serem bem alimentados, eles também não têm um pensamento em suas mentes. Obviamente, seria incorreto argumentar que eles entraram em samadhi. “

Patriarca Zen Hui-neng: “É um grande erro suprimir nossa mente de todo pensamento… Abster-se de pensar em qualquer coisa, esta é uma visão extremamente errônea… todos vocês estão avisados para não usar esses exercícios para contemplar na quietude ou para manter a mente em um estado vazio. “

O torpor sonolento de uma mente preguiçosa não é o verdadeiro vazio a ser desejado e procurado.