Algumas pessoas colaboravam mais diretamente com PB. E, aqui apresentamos alguns relatos de suas experiências. Essas pessoas tinham tarefas como publicação, edição, tradução e secretariado.
Abaixo estão as histórias de algumas pessoas:
É início dos anos setenta. Estou em Helsinque, Finlândia e tenho algumas horas antes do avião decolar para Estocolmo. O que fazer? A escolha é entre passar o tempo num agradável restaurante nas proximidades, ou visitar a grande livraria acadêmica. Eu escolho a última.
Atraído para o departamento da livraria onde a literatura espiritual é divulgada, leio as contracapas e folheio vários livros. Há muita coisa interessante aqui. Finalmente, uma jovem se aproxima de mim e diz: “Meu nome é senhorita Reinikka (jamais irei esquecer o nome dela). Você conhece um autor chamado Paul Brunton?”, ela pergunta.
“Não, eu nunca ouvi falar nele.
“Compre um livro dele, ele é muito bom”, diz ela com um sorriso.
Por que não? Pensei e peguei um livro com o título sedutor O Caminho Secreto. Paguei no caixa e peguei o ônibus para o aeroporto.
Durante o voo, começo a ler aqui e ali meu novo livro. De repente, algo totalmente inesperado acontece. Juntamente com um sentimento de profunda paz interior, há uma absoluta certeza em mim de que meu antigo anseio por entendimento, aprofundamento e liberdade havia recebido uma resposta. É como uma visão intuitiva imediata. Lágrimas começam a vir; eu não posso nem quero detê-las. Estou extremamente grato.
Agora, quarenta anos mais tarde, quando penso nessa experiência, eu tremo. Trinta mil pés acima da superfície da terra, afinal eu tinha encontrado meu tão ansiado guia espiritual. E agora eu sabia seu nome: Paul Brunton. Mais tarde, uma possibilidade se abriu para encontrá-lo pessoalmente, o que aconteceu em cinco ocasiões. Mas isso é uma outra história.
O encontro com Paul Brunton e suas ideias ocorreu em um período crítico da minha vida. A crise da meia idade não era apenas palavras – era uma realidade dolorosa. Para mim, como para muitos outros, era uma questão de sentido da vida, ou melhor, da falta de sentido dela, que eu tivesse encontrado. Eu havia vivido muito tempo na superfície da vida, sem qualquer ancoragem mais profunda, e sentia desesperadamente que a vida estava fugindo de mim. Era isso realmente tudo? Não havia mais alguma coisa?
O breve encontro com a senhorita Reinikka na livraria não foi apenas o início de um desenvolvimento que mudou completamente o curso da minha vida; foi também o início do meu papel como editor de Paul Brunton. Uma tradução para o sueco de O Caminho Secreto foi o primeiro livro de Brunton que nós publicamos.
Robert Larson, editor dos livros de PB na Suécia
Quarenta anos atrás, toquei a campainha do apartamento de Paul Brunton, em Lausanne, na Suíça, pela primeira vez. Eu tinha 27 anos, mãe divorciada com dois filhos, Eliah, uma criança e Chris, com seis anos de idade. Ferida e sangrando de dúvidas existenciais, não sei o que eu teria feito se Paul Brunton não tivesse aparecido na minha vida. “Eu estava pendurada
sobre o abismo”, disse a ele, enquanto caminhávamos juntos ao longo da margem do Lago de Genebra, em um lindo dia de primavera, um ano depois. Após um silêncio tão longo que eu pensava que ele não tivesse me ouvido, ele disse baixinho: “Sim, você estava”.
Nossa primeira reunião foi agendada em um prazo muito curto. Não houve um contato externo anterior, mas durante meses antes eu acordava todas as manhãs com um sentimento de expectativa feliz. Eu sabia que iria encontrar alguém que me conhecia profundamente.
Quando Paul Brunton abriu a porta e olhei em seus olhos, eu sabia que era ele. De repente, a grandeza de nossa natureza humana me foi revelada. O homem parado na porta, no mundo exterior, e o meu próprio ser interior, se fundiram magicamente em um.
A experiência transformou toda a minha vida. Isso me possibilitou lutar e conquistar os impulsos destrutivos da minha natureza que estavam me derrubando.
Sendo jornalista e escritora, me ofereci para traduzir os livros de Paul Brunton para o sueco. Traduzir é uma maneira maravilhosa de estudar um texto em profundidade. E neste caso, sendo a fonte espiritual, o contato diário com a sua escrita também ajudou a me curar psicológica e emocionalmente.
Na época da minha primeira visita a Paul Brunton, eu estava estudando filosofia e meditação com Anthony Damiani, um de seus alunos mais dedicados. O humilde amor de Anthony por seu professor abriu caminho para mim. Anthony era um apaixonado místico e filósofo ítalo-americano, obstinado e brilhante, com uma suave profundidade de sentimento. Durante uma das minhas primeiras aulas na livraria American Brahman, em Ithaca, onde ele ensinava, ouvi-o dizer “PB”. Quando ele falou as iniciais de seu professor, todo o seu ser transfigurou-se em uma infinita ternura e humildade. Um profundo silêncio se seguiu – todos nós sentimos um anjo atravessar o recinto.
A tradução me permitiu ver Paul Brunton uma ou duas vezes por ano, durante os últimos dez anos de sua vida. Finalmente voltei para a Suécia com meus filhos, a fim de ajudar a promover seus livros no meu país natal. A Larson Publications (Sueco/Inglês), de propriedade e gerenciada por Robert Larson e sua esposa Brigitta, havia acabado de publicar o primeiro livro de PB, O Caminho Secreto, em sueco, quando retornei a Estocolmo.
Vi que muitos dos meus amigos estavam pairando sobre o abismo como eu havia estado, e pensei que a orientação espiritual que Paul Brunton oferecia em seus livros poderia ajudá-los também. Aqui minha formação jornalística foi útil. Tornei-me uma repórter investigadora do interno. PB me incentivou a escrever. “Você será uma ponte entre a filosofia espiritual em meus livros e o público em geral”, disse ele. “Não escreva apenas sobre as minhas ideias. Escreva sobre diferentes tópicos da vida e então você pode trazer uma perspectiva mais profunda”.
Segui seu conselho.
Por sorte, Svenska Dagbladet, um dos dois maiores jornais da Suécia na época, tinha uma seção muito popular de temas existenciais, onde eu me encaixava. Escrevi uma série de artigos de destaque de meados dos anos 1980 a 2004. Entre esses eu publiquei uma série de três artigos sobre Paul Brunton, e seus escritos ajudaram a promover os livros que foram publicados em círculos mais amplos.
Durante os dez anos que Paul Brunton viveu, após nosso primeiro encontro, a minha maior alegria foram as visitas que tive com ele uma ou duas vezes por ano. Ele viveu uma vida muito reclusa, dedicando-se à escrita e à “pesquisa interna”. Tentei tornar-me útil, ajudando-o com correspondência e tarefas práticas. Ele revisou seus livros e ajudou a formular os guias de estudo, que a editora sueca queria incluir nos livros.
Na Suécia, temos uma vasta infraestrutura de organizações de estudo para educação de adultos. Os livros de Paul Brunton foram comercializados e promovidos para círculos de estudo por várias das maiores organizações de estudo da Suécia. Um círculo de estudo consiste em dez a vinte indivíduos e se reúne duas noites por mês, durante um semestre. É uma ótima maneira de os buscadores encontrarem, conhecerem e trocarem experiências e pontos de vista entre si.
Inicia com a meditação e depois prossegue com a discussão com base nas perguntas do guia de estudo.
Paul Brunton incentivou o círculo de estudos a se formar para o estudo da filosofia espiritual. Ele gostou da ideia de que um grupo se formasse e se reunisse por um curto período e depois se dissolvesse. Ele não queria iniciar movimentos e organizações. “Afinal”, ele costumava dizer, “a busca espiritual é uma coisa interior”. Você precisa aprender a confiar em sua orientação interior para realizar seu alto objetivo. Considerando que, é claro, o culto a gurus e organizações externas podem ser contraproducentes.
Nosso tempo juntos foi dedicado ao trabalho e ao serviço. As tarefas mais triviais na presença de PB, como descartar o lixo, ou embrulhar antigas pinturas de seda, ou cortar tomates, tomaram uma dimensão intensamente espiritual.
O que isso significa? Como foi experimentado? Diferentes indivíduos experimentaram isso de forma diferente. Senti isso quando eu estava a caminho dos EUA para vê-lo pela primeira vez. Era como se o escudo protetor no meu coração estivesse começando a derreter. Situações, pessoas e acontecimentos em minha vida apareciam diante dos meus olhos internos. Primeiro eu os via do lado de fora, o que é uma perspectiva familiar. Em seguida, o exterior derreteu e a verdade interior foi revelada. Minhas lágrimas foram fluindo desde o momento que embarquei em Nova York, até pousarmos em Oslo. Quando cheguei até PB, grande parte da minha dor e amargura foi dissolvida e eu me senti nua, sem pele. Quando afastada da companhia de PB, eu experimentava sua presença, cada vez mais, como uma paz, clareza ou conhecimento insondável. Também poderia se manifestar como intensa alegria ou liberdade.
Quando recebi a notícia do falecimento de PB, em julho de 1981, eu estava respirando fundo para deixar minhas lágrimas fluírem, quando tive uma percepção inesperada e muito nítida dele. Sua risada característica e o curto sorriso. “Deixe-me ver agora, se você entendeu o que eu te ensinei ou se eu perdi meu tempo com você!” Sua voz ressoou dentro de mim.
Isso também foi um presente. Eu queria perguntar-lhe tantas coisas – e o fiz. Ele era tão aberto e gentil que você não podia deixar de fazê-lo. Mas 99% do tempo ele refletia as minhas perguntas de volta para mim: “O que você acha, Anna? Descubra!” Embora, às vezes, possa ter sido desconcertante, isto me ajudou perfeitamente. Eu perguntava a mim mesma. E cada vez que perguntava, sem saber, eu havia me aproximado mais da luz no fundo do meu próprio coração. Agora, de repente, estava presente ali, não só em mim, mas também na floresta e nos prados ao meu redor. PB estava mais perto ainda do que ele esteve enquanto no corpo. E a sua luz se fundiu com a luz do meu próprio eu superior.
Anna Bornstein, tradutora da Obra de PB na Suiça
Qual foi o impacto do seu primeiro encontro com PB? Havia um sentimento de paz em sua presença?
O impacto do encontro com PB era muito poderoso. Todo o tempo. Todos os dias quando ele abria a porta.
Para dar um pouco de contexto, eu conheci muitos gurus e personalidades espirituais, incluindo vários encontros com o Dalai Lama e Shankaracharya na Índia. Cada encontro foi muito maravilhoso, e cada um desses grandes seres tem uma presença bem diferente.
Meu primeiro encontro com PB foi através da amabilidade de meu professor Anthony Damiani. Conheci Anthony poucos dias antes de vir para Cornell como um calouro, e soube assim que o encontrei, que ele era a razão pela qual eu tinha vindo a Ithaca. Isto foi em 1967. Durante os vários anos seguintes, muitos de seus alunos conseguiram visitar PB na Europa, às vezes por alguns dias, outras vezes por uma semana. Embora eu tenha pedido várias vezes para ir, PB nunca respondeu aos meus pedidos. Em 1971 eu me mudei para Wisdom’s Goldenrod, onde eu vivi como monge com vários outros homens, pelos próximos três anos.
Em 1972, não apenas muitas pessoas ligadas a Wisdom’s Goldenrod conheceram PB, mas alguns o visitaram com bastante frequência. Eu realmente queria desesperadamente conhecê-lo, e me perguntei que falha pessoal ou fraqueza espiritual estava bloqueando o meu caminho, ou melhor, qual dos meus defeitos e fraquezas eram os bloqueios. Então, numa manhã Anthony entrou no Centro e perguntou: “Você poderia estar pronto para ver PB na próxima semana?” Eu disse claro que eu podia, e comecei a fazer preparativos apressados para viajar para a Suíça, sem nunca ter estado no exterior. Meu itinerário, organizado pela minha agente de viagens de um recanto, me levou a viajar direto, de ônibus, avião, barco e trem por 48 horas, de Ithaca para Nova York, logo para Londres e em seguida, Paris e, finalmente, para Montreux na Suíça, onde PB estava vivendo na época. Foi-me dito que eu deveria ligar para PB assim que chegasse em Montreux e seguir as instruções dele.
Embora eu seja um viajante bastante resistente, a viagem foi muito cansativa para mim -passar pela alfândega, encontrar meu caminho para Calais, e assim por diante. Mas, dois dias depois que eu saí de Ithaca, e sem o benefício de pousar em um hotel no meio do caminho tomei as instruções literalmente, e chamei PB assim que desci do trem em Montreux. “Muito bem”, disse ele, “venha direto.”
Fiquei horrorizado. Precisava de um banho e uma muda de roupa; era domingo e eu pretendia obter algumas flores ou frutas para levar como oferta, algo que me tinha sido aconselhado. Agora, naqueles dias, a Suíça num domingo era mais morta que um estacionamento durante uma tempestade de gelo – mesmo na estação de trem, não havia nada aberto, nem mesmo uma banca de jornal. Havia, no entanto, uma máquina de venda automática que vendia laranjas, além de chocolates e biscoitos; então eu comprei todas as laranjas da máquina, enchi minha mala, e me dirigi a um longo caminho para encontrar PB. Cheguei ao apartamento dele e bati na porta, e quem a abriu foi então meu amigo Micha-El (Dr. Alan Berkowitz) da Wisdom’s Goldenrod, que me cumprimentou e disse que PB estava me aguardando em sua sala de estudo.
Eu entrei na sala de estudos onde encontrei um homem pequenino reclinado sobre um sofá laranja vivo, apoiado em travesseiros e lendo O Egito Secreto. “Você vai me perdoar”, disse ele, “Eu tenho que ver como ficou este livro”. Muito perplexo para fazer uma observação, eu me ajoelhei no chão por algum tempo. Aos poucos, uma grande paz e alegria começou a me preencher. Eu me senti absolutamente maravilhado e tinha a sensação de que eu nunca poderia desejar mais do que estar naquela sala, com PB. Eu continuava cansado, e eu ainda quis saber sobre seu comentário a respeito de um livro que ele mesmo tinha escrito, mas eu não tinha dúvida de que estava na presença de algo que eu nunca havia encontrado antes.
A maneira que eu disse a alguém hoje, foi que estar na presença dele não tornou o resto da vida sem sentido, mas sim revelou-me um plano de Realidade no qual o sentido simplesmente não se aplicava e não se aplica. Senti uma decepção estranha. A decepção foi a morte interior das minhas esperanças secretas (e ignoradas) de que outros objetivos e caminhos da vida além da busca valessem a pena e fossem legítimos em si mesmos.
Na presença do sábio, em seu silêncio, em seu esplendor, não foi o caso obviamente, pois agora eu sabia que o sábio, neste caso PB, está no centro da vida, do esforço humano, independentemente de nossos treinamentos, interesses, oportunidades ou habilidades. Eu também sabia com profunda clareza exatamente por que eu tinha que esperar tanto tempo para me encontrar com PB. Pude ver que uma visita anterior teria me desequilibrado, me enchido de muito orgulho ou vergonha, muitas perguntas ou respostas demais. Se, agora, nestes últimos anos, eu for capaz de comunicar esses fatos — o fato da iluminação, e o fato da extraordinária sabedoria envolvida no desenvolvimento de nossas próprias experiências espirituais — sentirei que realmente fiz algo para retribuir PB, e o Eu Superior, pelo momento.
Então, aos poucos, PB sentou-se, pediu desculpas pela espera, comentou que havia décadas ele não lia esse livro e estava revisando-o com Alan para mudanças e correções. Então ele perguntou, “você tem alguma pergunta para mim?” Bem, eu tinha, mas eu não estava em condição mental ou física para perguntá-las, ou para guardar suas respostas, estando exaltado na mente e exausto no corpo. No entanto, eu sabia que este era um momento que não poderia ser adiado. Então eu tirei meu caderninho e apresentei a ele as minhas três perguntas. Uma delas era de natureza pessoal, e não vou repeti-la aqui. A segunda foi, “O que é Dharma?” Sua resposta foi “colocando em prática o que você sabe.” A terceira pergunta foi, “O que posso fazer para ajudá-lo?” — uma pergunta que foi respondida pelo resto da minha vida! Na época, o PB apenas sorriu e disse, “Eu vou pensar em algo.”
Pouco depois, Alan e eu fomos para o nosso hotel e eu caí em um sono profundo. Depois disso, na semana seguinte, a cada dia nos encontrávamos com PB por algumas horas na manhã e às vezes novamente à tarde. Às vezes ele nos via a ambos, outras vezes apenas um de nós. Meu próprio estado subjetivo estava todo variado: alguns dias eu estava em êxtase e muito contente de estar presente; em outras vezes eu estava cheio de pensamentos negativos, ressentimentos, ansiedade e uma variedade de preocupações irrelevantes e medos. Felizmente, esses ataques raramente ocorriam enquanto eu estava na presença dele, e assim, eu pude realmente prestar atenção nele.
Durante esta estadia, PB discutia seus livros originais com Alan e começou a fazer uma lista de todas as correções que ele queria que fossem feitas nesses textos. Acredito que esta discussão não foi concluída até a última visita de Alan a ele, em 1979.
Ele me deu vários envelopes cheios de frases datilografadas, um conjunto de envelopes numerados de I a XVIII, e uma lista de 28 categorias, um pouco semelhante às encontradas nos Notebooks. Ele me pediu para classificar as frases em suas categorias apropriadas. Eu ansiosamente aceitei a tarefa e quando abri o envelope, fui confrontado com declarações como, “isso é mais importante do que”, ou “em nenhum caso isso deve ser negligenciado.” Passei vários dias tentando lidar com esses fragmentos e, finalmente, coloquei todos eles em uma ou outra categoria. PB, em seguida, questionou minha colocação e terminou dando-me outro par de grupos para classificar.
E assim os nossos dias se passaram, andando pelas ruas de Montreux, tomando chá com PB, falando quando ele falava, comendo tahine com torradas, e tentando escrever o máximo que podíamos sobre nossa estada. No último dia, nos sentamos com PB e ele nos falou longamente – o que me pareceu horas. Depois nos despedimos, fomos para um parque próximo para escrever sobre este momento notável, e descobrimos que não tínhamos memória alguma do que aconteceu. E até hoje, nem Alan nem eu temos a menor lembrança desta conversa.
Eu me lembro de ter sentido fortemente que eu iria vê-lo novamente, e um enorme desejo de fazer qualquer coisa em qualquer trabalho interno ou externo para realizá-lo. A sorte, a Graça do Eu Superior, e a própria profunda generosidade de PB fez com que, apesar de minhas próprias limitações, meu desejo fosse concedido várias vezes, com benefícios que irão me afetar durante as próximas vidas.
Então, sim, PB transmitia um sentimento de paz, mas também de poder mal contido, parecido a andar na superfície do sol – tanta luz, que era maravilhoso, e ao mesmo tempo, extraordinariamente difícil de suportar. Outros, que não tinham a menor ideia sobre ele, também sentiam isso. Quando saíamos, às vezes uma pessoa se sentava ao nosso lado no ônibus ou em uma lanchonete, e depois seguia PB pelo resto do dia. Quando estava no hospital para uma pequena cirurgia, as enfermeiras, os médicos, e a equipe de limpeza, às vezes vinham e sentavam-se na sala, e estes não eram as pessoas que tinham motivos para reconhecê-lo ou a seu nome. Em outro momento eu vou tentar escrever algumas histórias sobre eles.
Eu sei como ele era fisicamente, mas me pergunto sobre o seu comportamento. Quando ele não estava se dirigindo às pessoas sobre assuntos espirituais… como seria, por exemplo, encontrar-se, casualmente, com ele no supermercado? Ele era jovial e enérgico, sempre mudando dependendo de, com quem e onde ele estava. Ele era o centro das atenções? Extrovertido em eventos sociais, ou quieto e isolado pelos cantos?
Quando PB não estava se dirigindo às pessoas sobre questões espirituais, o que ocorria na maioria das vezes, e em nenhum das vezes – ele ficava simplesmente quieto, mas eu dificilmente diria ‘sozinho pelos cantos’. Não era tanto um sentido de isolamento, mas reservado e tranquilo, como uma manifestação de silêncio. Nos 7 meses em que eu estive com ele, só tive duas conversas sobre minhas perguntas e questões pessoais. Por outro lado, tópicos, pontos filosóficos, técnicas de meditação e informações sobre ocultismo, fluíam dele durante a nossa hora do chá e do almoço. Às vezes, quando eu chegava em seu escritório com uma pergunta ou para comunicar uma tarefa cumprida, PB interrompia seu trabalho ou sua leitura e iniciava uma conversa, geralmente começando com uma pergunta a mim. Na maioria dessas ocasiões, seguia-se uma longa conversa e, depois de um tempo, PB explicava seu interesse e reflexões sobre o tema em questão; em outros momentos, quando eu respondia, ele só balançava a cabeça e me agradecia, não me dando nenhuma pista sobre o motivo da pergunta ou o que ele concluiu da minha resposta.
Eu também quis saber como ele seria na mercearia e cheguei a vê-lo em ação por lá! Basicamente, ele era incrivelmente eficiente, circunspecto, e tentava evitar colidir com alguém a todo custo. (Ser tocado realmente o comprimia com a aura da outra pessoa, e era provável que eles também recebessem um ‘impacto’ da sua presença. Uma vez que alguém o notava, um comprador ou vendedor, por exemplo, eles tendiam a segui-lo, às vezes até mesmo caminhando pela rua atrás dele, deixando sua loja sozinha. Ele, portanto, colocava em si uma espécie de capa de invisibilidade e movia-se rapidamente através do espaço público. Às vezes ele despertava animosidade, pois as pessoas realmente paravam de pensar diante dele, e aqueles que tinham resistência a assuntos espirituais, o detestavam profundamente. Em geral, porém, as pessoas à sua volta começavam a brilhar e como que “despertar”, e estes eram os comerciários comuns que não sabiam seu nome, reputação, ou qualquer coisa sobre ele.
Quanto a ser ‘imprevisível’, eu suponho que sim, na medida em que ele respondia à essência mais profunda da pessoa com quem ele estava interagindo. Então, se essa pessoa agia gentilmente, ele se tornava a própria bondade; se eles eram egoístas, tornava-se friamente impessoal. Ele não julgava as pessoas no sentido de condená-las; ele simplesmente refletia de volta a própria condição espiritual deles, quer quisessem ou não. Ele estava ciente do que as pessoas pensavam, consciente de toda a vida delas e muitas vezes de suas vidas passadas também, não de uma forma sobrenatural, mas de um modo mais direto e inato de conhecer. Ele certamente tinha um senso de humor e não estava acima de provocações ou de reações rápidas, mas estes estados de espírito ocorriam principalmente durante o chá ou durante uma viagem. E embora eu pudesse dizer que ele estava sempre mudando, era mais que nenhuma projeção ou expectativa realmente ‘colava’ nele; ele estava imediatamente presente à vida e, como tal, fluía junto com as circunstâncias e a qualidade do momento. É algo parecido a encontrar pessoalmente, uma vez por ano, um amigo de correspondência: nos lembramos da presença de vida mais completa da outra pessoa; o resto do tempo, somos apenas palavras no papel, pensamentos no ar. Agora pegue esse sentimento de vivacidade que temos quando nos encontramos com alguém e o eleve ao quadrado; conhecer PB foi como encontrar o poder mais puro da vida humana. Isso é jovial? Às vezes. Enérgico? Definitivamente.
Mas a vida social? Extrovertido em eventos sociais? Bem, pode ter havido algum tempo na longa vida de PB, quando ocorriam eventos sociais, mas certamente não durante o período em que o conheci ou que ouvi a respeito dele. Ele encontrava pessoas para jantar e trocavam umas poucas palavras, ou para um chá, mas esse era mais individual ou em pequenos grupos. Em tais situações, a conscientização do visitante sobre sua presença impedia qualquer senso de socialização, embora houvesse uma atmosfera agradável e culta o tempo todo. Eu nunca o vi ‘relaxar’ como fuga de alguma pressão cotidiana, nem me ocorreu que ele teria necessidade de tal atividade. Ele relaxava sua mente inferior e corpo diariamente reservando uma hora após o almoço para uma sesta (ele era idoso) e para ler vários jornais e revistas, incluindo o jornal local. Embora eu nunca o visse ler romances, seus comentários sobre a literatura deixaram claro que ele era um ótimo leitor, especialmente no que diz respeito a autores de seu próprio tempo, como Henry Miller, Hemingway e, é claro, Somerset Maugham.
Ele era exatamente, e sem esforço, quem a Mente-Mundial o conclamava a ser em cada momento da vida, nem mais, nem menos.
Ele não tolerava artifícios, e uma vez que a maioria dos encontros sociais são artificiais, de uma forma ou de outra, ele não se envolvia em tais reuniões. Quando eu digo que ele não os tolerava, quero dizer que sua presença quebrava qualquer pretensão em torno dele, libertando aqueles que preferiram a autenticidade, e assustando aqueles que se agarravam ao formalismo e pretensões. Por isso, era realmente impossível para ele ser parte de algum grupo, porque sua própria chegada mudava toda a qualidade, integralmente todo o evento!
Bem, isso é o suficiente de mim sobre este tema. Aposto que se você perguntar a outras pessoas, obterá respostas diferentes. Afinal, eu conheci PB como um homem mais velho, e tivemos muito trabalho a fazer durante a minha estadia com ele. E eu mesmo sou pouco inclinado a atividades sociais, que inevitavelmente colorem estas histórias, mas é o que eu vi, o que eu observei, e o que eu estou mais feliz em transmitir a vocês.
Timothy Smith, co-editor dos Notebooks e membro da Diretoria da PBPF
Visitando PB em Montreux
Lembro-me que suas ações eram imprevisíveis – um verdadeiro indivíduo. Quando entreguei algumas camisas de gola alta para ele, em tons pastel, mencionei que o remetente havia dito que ele não iria gostar delas. PB disse suavemente: “Como ela saberia o que eu gosto?”
Lembro-me de ter visto PB usando uma boina e encostado na parede em seu apartamento em Montreux (ele disse que costumava usar a boina dentro de casa porque a cabeça dele ficava fria). Às vezes, suas poses eram tão pitorescas, que era como se fossem cuidadosamente organizadas e inapagáveis.
A primeira vez que o vi, ele estava de pé ao lado da cachoeira perto do hotel onde eu estava hospedada, vestindo um terno de algodão verde claro. Um homem pequeno, em um terno incomum, amassado, gravou seu lugar em minha mente de uma maneira que uma roupa clássica, bem passada, não teria.
Tomando chá com PB em um restaurante Marroquino
Ele pediu o chá e alguns minutos depois correu à cozinha para dizer ao garçom que não colocasse açúcar. (Ele disse que eles punham em demasia). Quando o chá chegou, ele agachou no banco para me mostrar como eles bebiam chá em Marrocos. A memória dessa imagem me faz sorrir.
PB era autêntico, não artificial. Ele dava a impressão de estar realmente interessado na conversa em questão. Ele era tão interessante para se conversar – nunca mentalmente cansado, mas entusiasticamente alerta. Eu me perguntava se ele estava apenas sendo gentil, visto que a nossa conversa fiada não poderia ser tão interessante para ele. Ele sempre tinha algo a acrescentar, o que fazia parecer que ele também estava descobrindo. (Sua Santidade Chandrasekharendra Shankaracharya tinha essa mesma qualidade de frescor).
PB me deu uma pilha de jornais para ler no meu quarto de hotel. Eles foram publicados anos antes, na Inglaterra, pela Sociedade Teosófica, e eu me vi contando a ele sobre os artigos. Ele sabia o histórico da informação e corrigiu as declarações errôneas. Ele até me pediu para trazer um artigo específico para que ele pudesse lê-lo.
Organizando Móveis com PB
PB pediu algumas ideias sobre como reorganizar sua sala de estar/jantar para que a luz do sol não desbotasse o estofamento. Isso foi divertido por si só, porque eu sou – ou costumava ser – uma movedora de móveis inveterada. Não consigo explicar exatamente o porquê, mas muitas vezes eu sinto que a mobília em um cômodo não está colocada corretamente para a ocasião (na época que estive com PB, eu não conhecia o Feng Shui). Quando sugeri trocar as duas áreas, sua atitude foi de abertura e interesse. Eu me vi pensando que não iria dar certo e sugeri desenhar em escala num papel para ver se as coisas se encaixariam. Ele disse: “Não é necessário, não somos profissionais. Vamos ver como isto funciona.” Ele parecia interessado e curioso. Foi esta a qualidade do entusiasmo que ele mais tarde aplicaria a Anthony Damiani e relacionaria com a palavra espírito (œnqouj) em grego? Quando ele estava em Columbus, dirigiu algumas de suas entrevistas com pessoas na sala de jantar do Witter. Ele frequentemente movia os móveis antes que a próxima pessoa entrasse. Às vezes, a cadeira em que ele se sentava ficava na esquerda, às vezes na direita.
Meditando com PB
A memória mais especial é do sorriso benigno em seu rosto quando ele meditava. Ele sugeriu que nós tivéssemos um momento de silêncio juntos e algo me disse para abrir os olhos. Ele tinha o sorriso mais benigno no rosto. Eu agora me lembro do trecho no Volume 15 dos Notebooks: Porque o Buda Sorriu.
Barbara Plaisted, membro da Diretoria da PBPF
Em 1974, dois anos após um divórcio doloroso, eu tive meu primeiro contato com os escritos de Paul Brunton. O divórcio foi a coisa mais difícil que eu já tinha feito. Estivemos casados por catorze anos e tínhamos três filhos. Eu amava meu marido, mas ele sofria de transtorno bipolar e se auto-medicava com bebida alcoólica. Senti que eu tinha que fazer uma vida melhor para os meus filhos. Eu me perguntava por que isso tinha acontecido comigo e qual era o sentido da minha vida. Por que eu estava aqui? Na minha dor, eu procurei respostas.
Entrei para um grupo na Columbus, estudando A Busca do Eu Superior. Fiquei fascinada com a ideia de que eu poderia realmente procurar e talvez encontrar, e estar em união com a minha alma. Li o Descobrindo a Si Mesmo e me vi concordando com as ideias. Era como se fossem minhas, e eu finalmente tinha encontrado alguém que concordava comigo. Um livro levou a outro e, por fim, eu tinha lido todos eles.
Quando Paul Brunton visitou Columbus em 1977, eu servi como secretária dele. Lembro-me da primeira vez que eu esperei que ele viesse para que pudéssemos começar a trabalhar. Eu estava em completa e maravilhosa paz. Foi o mais próximo que eu já estive “da paz que ultrapassa todo o entendimento.” Era como se tudo o que eu já tinha feito em toda a minha vida, tivesse me trazido a este momento.
Nos sentamos debaixo de uma árvore e ele ditou ideias a mim. A certa altura ele me pediu para entrar em casa e dizer aos outros que estávamos prontos para o chá. Quando entrei na cozinha, havia três ou quatro pessoas trabalhando lá, outros estudantes muito felizes em estar a serviço de PB, como ele gostava de ser chamado. Uma coisa incrível aconteceu. Era como se vibrações de energia se movessem simultaneamente em minha direção, vindo de cada uma das pessoas, e dentro dessa energia suas vozes revelassem o que cada uma estava pensando. Eu fiquei atordoada. Eu nunca tinha tido uma experiência paranormal assim. Na verdade, de uma maneira científica ocidental um tanto típica, eu era cética. Esta experiência foi realmente comovente para mim. Isso mudou minha perspectiva da realidade e abriu minha mente para considerar outras possibilidades.
Tive a sorte de ter uma entrevista privada com PB. Ele respondeu perguntas para mim que até hoje se mostram importantes em minha vida. Seus escritos continuam sendo de valor especial para mim, porque me incentivaram a tomar um caminho independente, sem dogmas. Isso me deixou livre para escolher o melhor em todas as filosofias, a pensar por mim mesma e começar a entender a verdade da minha existência. Meu professor físico transformou-se em minhas experiências diárias, conforme eu testava estas ideias através da aplicação quotidiana. Eu as achei não apenas satisfatórias para a alma, mas também práticas. Elas me ajudaram a encontrar o sentido que eu estava procurando, e mudaram minha vida de maneiras positivas.
Beverly Bennett, membro da Diretoria da PBPF
Minha esposa Gran é a coordenadora do website de Paul Brunton em português, inspirado no site da PBPF (Fundação Filosófica Paul Brunton), uma tarefa que ela realizou com a assistência e colaboração de um grupo de pessoas do Brasil e com minha ajuda. Quando traduzimos a seção do site da PBPF que compartilha as experiências que as pessoas tiveram com Paul Brunton, fiquei inspirado a escrever algumas das minhas próprias experiências com ele.
Eu tive a oportunidade de estar com Paul Brunton três vezes, fisicamente, nesta encarnação. A primeira vez foi em 1975. Nesta época eu e outros três residentes morávamos no Wisdom’s Goldenrod Center (WG), no estado de NY. O WG havia sido fundado por meu mestre Anthony Damiani (estudante de longa data de PB). Anthony, então, sugeriu à PB, que os residentes fossem até a Suíça por um curto período de tempo para ajuda-lo em seus assuntos práticos. Na segunda vez que estive com PB, em 1977, ele visitava o WG . E, depois, em 1979, quando eu, inesperadamente, fui convidado a acompanhá-lo na Suiça, enquanto ele se recuperava de uma cirurgia de hérnia.
Em 1975, eu e os outros residentes do Wisdom’s Goldenrod (WG) nos organizamos de forma que nossas visitas fossem espaçadas durante aquele mês, assim e cumprindo com o propósito de ajudar PB nas suas questões práticas. Durante meu tempo com ele, tive a responsabilidade de fazer todas as suas compras diárias. Para isso, ele me deu 100 francos suíços no início da minha visita, e todos os dias eu ia à cidade e comprava os itens necessários – pão fresco na padaria, vegetais biodinâmicos e orgânicos no mercado, etc.
À medida que eu fazia as compras o dinheiro que ele me deu ia diminuindo, mas decidi ir usando o meu próprio dinheiro, sem nada dizer-lhe, pois não queria pedir nenhum dinheiro para PB. Mas, depois de alguns dias, ele me perguntou se eu precisava de mais dinheiro, eu lhe respondi que não, que eu ainda tinha muito dinheiro. Ele ficou um pouco surpreso, mas não disse nada e pareceu aceitar minha “mentira branca”. Alguns dias se passaram, então, ele voltou a me perguntar sobre o assunto e ao escutar a mesma resposta de minha parte, ele disse, com um sorriso místico no rosto: “É interessante quanto tempo pode durar 100 francos!” Depois disso, ele não me perguntou mais nada sobre o dinheiro e eu continuei a usar os meus próprios recursos para as compras diárias.
Então, no último dia de minha visita, quando estávamos nos despedindo, PB me ofereceu uma certa quantia em dinheiro, mas eu sentia que não podia aceitar, então resisti e disse-lhe que não poderia aceitar. Mas ele persistiu, com firmeza e insistentemente, então, senti que não podia desobedecer-lhe ou desconsiderar a vontade dele, de alguém como ele, pois sempre o tive como um Sábio, além de que ele era o meu ‘maha-guru’ (o mestre do meu mestre). Por isso, tive que aceitar, embora relutante, o dinheiro que ele estava me oferecendo. Um pouco depois, ao contar o dinheiro e, para minha surpresa, a quantia que ele havia me dado era a mesma que eu havia gasto com suas compras. No final, nós dois demos um presente um para o outro. Além disso, ele me deu uma lição para refletir pelo resto da minha vida.
Quando PB visitou os Estados Unidos, em 1977, ele veio de transatlântico, aportando na cidade de Nova York. Anthony foi buscá-lo e o levou diretamente até o Wisdom’s Goldenrod Center, onde um almoço especial havia sido organizado para ele e, eu, tive a sorte de estar entre os convidados. Então, PB entrou e todos nós nos sentamos à mesa para o almoço. Um silêncio muito constrangedor se seguiu… O que se poderia dizer ao PB? O que se deve dizer em momentos como esse? O que alguém diria? O silêncio continuava…Todo mundo (exceto PB) estava ficando inquieto. Finalmente, um dos presentes decidiu quebrar o silêncio e perguntou calmamente a PB: “PB, o que você achou de Nova York?” PB respondeu: “Eu não achei, saí do barco e lá estava Nova York!” Uma grande risada irrompeu o ambiente, o silêncio havia sido quebrado e a conversa fluiu livremente a partir daí. (????)
Estar na presença de PB era como estar na presença de uma imensa e quieta paz silenciosa. Era essa a aura que ele tinha em torno dele mesmo, uma “paz que ultrapassa o entendimento”. Não era que ele estivesse “em paz” ou “na paz” - era como se ele fosse a paz ou alguém unido com a paz. Esta paz me fez lembra do apartamento onde morava PB, se podia ver muito bem do outro lado do Lago Genebra, a Monte Blanc, uma grande montanha branca silenciosa que parecia refletir fisicamente o intenso silêncio do próprio PB. Parecia que havia um paralelo ou uma polaridade ou algum tipo de equilíbrio cósmico entre os dois – lá fora, a grande montanha silenciosa, lá dentro do apartamento, o silencioso e fisicamente pequeno PB, cada um do lado oposto do grande lago, um em frente ao outro, e de alguma forma juntos um com o outro.
Dentro desse silêncio, não havia nada para refletir meu ego, nada para projetar seus pensamentos. Então, até certo ponto, também experimentava um tipo de silêncio quando estava com ele. Quando estava na presença de PB e, se minha mente começava a produzir pensamentos, sentia como se uma bomba estivesse explodindo e eu ficava realmente preocupado que meus pensamentos estivessem perturbando PB. Então, perguntei a ele, se o estava incomodando e ele me disse que não. Na verdade, ele parecia não saber do que eu estava falando. Às vezes, esses pensamentos se acumulavam e explodiam no que eu chamava de “ataque do ego” e o silêncio que eu experimentava em sua presença desaparecia até eu me recuperar desse “ataque”. Mais tarde, um outro residente (Tim Smith) do Wisdom’s Goldenrod Center veio para visitar PB, agora éramos três, e a presença de outro ego fez com que minha mente se tornasse ativa e deu a ela um motivo de se exteriorizar. E, PB percebendo a situação, comentou: “Agora que há outro ego com você, você compara-se com ele”.
Um dia, estávamos descendo a colina perto do apartamento de PB em direção à estação de trem, a fim de pegar um trem para a cidade grande mais próxima. PB e Tim estavam envolvidos em uma conversa profunda sobre o Sutra do Coração. De alguma forma, minha mente se convenceu de que perderíamos o trem, dada a lentidão em que PB caminhava e pelo fato dele parecer alheio ao tempo. Não querendo incomodá-lo, decidi descer com pressa a colina e comprar as passagens de trem para nós três, a fim de economizar tempo e evitar perder o trem. Então lá estava eu, ansiosamente parado na plataforma, com os ingressos na mão, quando PB e Tim finalmente se aproximaram da estação, ainda em câmera lenta, ainda entretidos pelo assunto. O trem se aproximou da estação. PB entrou na estação. O trem se aproximou quando PB subiu as escadas e entrou na plataforma. O trem entrou na estação e parou, a porta se abriu exatamente à nossa frente. PB, sem pausar, parar ou ajustar suas passadas, continuou andando em perfeita sincronicidade e no momento certo em que a porta do trem se abriu, ele entrou no trem sem ao menos “perder um passo”. Tudo foi perfeito, parecia um balé cósmico diante dos meus olhos. Tudo isso demonstrava o absurdo da minha preocupação, ou seja, os pensamentos do meu ego. Isto veio a se confirmar com muita clareza, quando ao dizer a PB que eu já havia comprado as passagens para nós três, ele respondeu: “Não preciso de passagem, pois tenho um passe de idoso”.
PB poderia parecer extremamente impessoal, quase como se ele “fosse um estranho para si mesmo” ou “não fosse deste planeta”. De fato, ele disse nos Notebooks e em outras partes de sua Obra, que ele era um ser vindo da estrela Sirius, que ele havia “trocado uma existência tranquila por uma problemática” e também que ao olhar a estrela-Sirius no céu provocava nele um sentimento de “saudade de casa”. Outros grandes mestres também disseram que a instrução espiritual para o planeta Terra vinha dos seres de Sirius. Mas não era uma impessoalidade fria ou hostil, mas mais do que isso, era que ele não era o complexo mente-corpo que nós chamamos de “PB”. De alguma forma, parecia que seus veículos não eram familiares a ele. Assim, por exemplo, uma vez eu lhe fiz uma pergunta sobre algo que li no livro Sabedoria do Eu Superior, e ele respondeu: “Quem escreveu isso?” Uma outra vez, estávamos conversando sobre a quantidade de trabalho que ele tinha e, como nem sempre era possível para ele, responder prontamente às cartas que lhe eram enviadas, e ele disse: “Além disso, tenho que cuidar do PB”. Assim sendo, mesmo enquanto o complexo corpo-mente tinha hábitos ou padrões de comportamento, o ser que era PB parecia não ser o complexo corpo-mente e, enquanto os habitava, dava a sensação de viver ou ser de “outro mundo”.
Embora PB vivesse como um eremita, quase completamente isolado do ambiente físico ao seu redor, ele era uma pessoa muito ocupada. Ele tinha uma extensa correspondência internacional, com cartas chegando diariamente. Ele era um leitor ávido e tinha um sistema de marcar as margens de seus livros com pontos, para que assim, as partes selecionadas pudessem ser digitadas por alguém, para sua biblioteca pessoal. Seu patrimônio literário também tinha que ser administrado, incluindo as novas edições de seus livros, as traduções estrangeiras e as correções que precisavam ser feitas nos livros já existentes. Além disso, ele acompanhava as notícias dos eventos da época.
Em relação à sua correspondência, PB respondia a todas as cartas, de uma forma ou de outra. Ele respondia de várias maneiras: algumas delas, ele escrevia, pessoalmente, com sua própria letra e assinava as cartas; outras cartas ele me ditava e depois assinava; outras ainda, ele resumia o que queria dizer e eu escrevia a carta para ele, e ele assinava; e, ainda, algumas outras vezes, depois dele resumir o que ele queria dizer, ele me pedia para escrever e assinar, dizendo que “PB pediu para que eu escrevesse para você …”. Portanto, o grau de envolvimento de PB com as pessoas através de sua correspondência, era variado. Finalmente, PB também dizia ter respondido algumas cartas mentalmente, mas que nem todas as pessoas que escreveram e que receberam suas respostas mentalmente, estavam receptivas o suficiente para receberem sua resposta.
Em uma certa ocasião, estávamos trabalhando em um importante projeto de publicação que tinha um prazo para a entrega. Porém, nunca houve pressa, agitação, ansiedade ou sensação de pressão. Para o desenvolvimento desse projeto, havia uma informação muito importante e necessária para PB, em um pedaço de papel, que misteriosamente desapareceu. Nós dois passamos a maior parte do dia revirando o escritório de PB, mas o papel não foi encontrado em lugar algum. Lembro-me de pensar comigo mesmo: “como um sábio pode perder alguma coisa?” “Ele não sabe como encontrá-lo?” Finalmente, desistimos da busca. No dia seguinte pela manhã, quando entramos no escritório, ali estava o pedaço de papel que faltava, à vista de todos, em cima de uma pilha de papéis sobre sua mesa. Essa experiência me fez compreender que, pensar que um Sábio é onisciente, pode ser um pensamento infantil.
Sempre gostei da saudação hindu do Namastê, na qual você coloca as palmas das duas mãos juntas e se curva diante da outra pessoa. Este gesto significa: “Eu me curvo diante do Deus que habita dentro de você”. Um dia, ao deixar o apartamento de PB, ele me acompanhou até a porta e, antes de partir, eu me virei e fiz esse gesto, do “Namaste”. Ele respondeu, também, da mesma forma. Eu havia praticado esse ritual centenas ou mesmo milhares de vezes e é muito habitual para mim. Parece uma “coisa boa a se fazer”. Mas naquele momento, com ele, algo foi diferente, algo profundo e surpreendente. PB estava realmente se curvando ao Deus dentro de mim, realmente percebendo o Deus dentro de mim e realmente fazendo o que é pretendido através desse gesto.
Meu último contato com PB foi o seguinte. Eu tinha que pegar o trem para o aeroporto na pequena vila em que ele morava no Lago Genebra, na Suíça, e PB tinha que ir em outra direção. Então, fomos juntos até a estação de trem. Depois de dizermos adeus, cada um de nós foi para a sua plataforma para pegar o seu respectivo trem. Enquanto eu esperava o meu trem, na minha plataforma, vi PB caminhando em sua plataforma para o local onde pegaria o trem. Mas ele não estava realmente “andando” como se costuma fazer no espaço físico. Parecia que ele estava flutuando pelo espaço, imóvel (embora seu corpo estivesse se movendo fisicamente), quase como se estivesse em uma correia transportadora, um ser composto de uma substância diáfana e não física. E ele parecia ter entrado em um espaço psíquico diferente, no qual eu não existia mais. Não houve nenhuma tentativa, como uma pessoa mais “normal”, de acenar para mim, sorrir ou trocar olhares de sua plataforma para onde eu estava. Parecia que eu não existia mais. Apenas PB flutuando, sem esforço pelo espaço.
Depois de termos separado os mitos fantásticos e as maravilhosas fabulosas
que foram tecidas em torno da simples realização do
conhecimento da alma, alcançamos o resíduo da verdade pura e grávida.
Os efeitos da iluminação incluem: um desapego imperturbável
de posses externas, posição, honras e pessoas; uma esmagadora
certeza sobre a verdade; uma paz celestial despreocupada acima de todos os distúrbios
e vicissitudes; uma aceitação sobre a situação do universo, na certeza de que tudo está certo
com cada entidade e cada evento desempenhando seu papel; e
sinceridade impecável que diz o que significa e significa o que diz.
A partir do momento em que a alma divina consegue tomar
posse do pensamento e sentimento de uma pessoa, de sua vontade e seu corpo, seus motivos,
palavras, atos e desejos se tornam obscuros e misteriosos para outros homens.
(Do volume 16 dos Notebooks, categoria 25, capítulos 2 e 3)
Nasci em Goiania, Brasil e quando era bem pequena, lembro de sentir e perceber situações bem sutis nos ambientes e nas pessoas. Aquilo para mim era normal. Cresci num grupo familiar que frequentava locais de uma doutrina espiritualista muito divulgada no Brasil, e eu os acompanhava às reuniões, palestras e tratamentos de cura, assim diziam. Minha mãe era católica de batismo, devota de Nossa Senhora, e atenta a situações sutis que aconteciam em seu lar. Assim, vez ou outra nos deparávamos com coisas diferentes e inusitadas dentro de nossa casa, através de visões ou contato com outras dimensões. Fui então crescendo e convivendo com estes eventos. Meus parentes me traziam livros espiritualistas que ajudavam bastante, e eu adquiria também os de minha escolha.
Lia muitos romances e livros de autoajuda, mas, com o tempo, excluí tanto essas leituras quanto os grupos, pois já não me atraíam mais. Costumava acompanhar outras pessoas às igrejas, centros e grupos espiritualistas diversos; e destes também me afastei. Então voltei-me para a literatura espiritual do oriente e nessa encontrei apoio, mas apenas por um tempo.
Na época da adolescência, eu já passando por dificuldades sociais, familiares, e de saúde, obtive livros de José Trigueirinho, emprestados de uma prima, e neles encontrei apoio e muitas respostas. Mesmo assim, parecia que faltava algo. Sempre fui uma criança tristonha, embora parecendo extrovertida e cheia de amigos. Passei a sentir uma melancolia profunda que aumentava a cada ano e me tornei muito introspectiva. Me considerava sozinha, como se estivesse abandonada ou em um lugar estranho com pessoas estranhas. A leitura daqueles temas agora me cansava. Deixei de fazer coisas que antes apreciava, me dediquei aos estudos formais e concluí a faculdade, pensando seguir o caminho dentro das carreiras públicas.
Estando ainda desempregada, passei por uma daquelas experiências de quando era criança, a qual me trouxe uma orientação. Guardei aquilo para mim, e após trabalhar um ano como servidora pública, tive problemas sérios com alergias, alterações hormonais, dores, e pesadelos que se repetiam de tempos em tempos. Como a medicina convencional não estava ajudando, decidi me aventurar pelos tratamentos holísticos.
Fiz uma pesquisa na internet sobre instrução espiritual e deparei-me com uma frase de Paul Brunton que me impressionou muito. Encontrei um livro dele num sebo – O Egito Secreto. Quando o li, que alegria senti, quão bom foi ter aquela instrução em mãos; foi como “ligar o interruptor de uma lâmpada”. Em seguida li seu trabalho, A Índia Secreta e A Busca do Eu Superior.
Interrompi as leituras e, adoecida, fui buscar orientação de uma terapeuta. Numa das sessões passei por uma experiência onde senti a mente e o corpo leves, como se percebesse ou visse dois lugares ao mesmo tempo, porque sentia meu corpo, mas notava um ‘lugar’ ou espaço diferente de onde estava.
Assim, vi uma pessoa se aproximar, era um homem. Demorei a entender e quando a visão ficou nítida, era uma imagem de PB ali. Ele sorria de lábios fechados, olhar brilhante e grave, mas bondoso. A terapeuta pedia que eu questionasse quem era, e o que desejava, mas ele apenas balançou a cabeça suavemente que “não”, como se não houvesse nada a falar. Eu não ouvia nenhum som, mas ao redor daquela imagem percebia cores quentes, como se um sol de fim de tarde iluminasse a cena. Ela me questionou se o conhecia, e eu disse que, talvez sim. Depois de instantes em completo silêncio, ele ergueu a mão numa benção, sorriu outra vez, virou e desapareceu. A sessão terminou ali.
Embora os tratamentos, passei por outra experiência desagradável de saúde, acredito que uma purificação recebida. Mas segui com o estudo e aprofundamento dos ensinamentos de PB, junto a oração, pois foi o que me deu apoio para prosseguir. Me comprometi a isto. Percebi que podia divulgar e falar para as pessoas próximas sobre quão maravilhoso é o impulso que ele nos ofertou, o Caminho de retorno à nossa Verdadeira Casa, o Eu Superior. Construí uma página na web de divulgação sobre PB, como gratidão, e este trabalho segue até hoje com muitos frutos de luz. Fiz amigos valorosos e oportunidades se abriram. Passei por estes processos de cura e hoje estou muito bem. A caminhada é eterna, e há muito o que aprender, viver. Meu amor e gratidão por este Irmão Maior levarei por toda minha vida, pois ele deu o toque que minha alma ansiava. Me libertou de amarras antigas, crenças e medos, e sempre traz luz ao meu caminho quando alguma dúvida surge. Assim percebo. Encontramos em sua obra muitas chaves para trabalhar a nós mesmos e a perseverar, aprendendo a ver a vida como ela é, pois PB é um exemplo para todos nós, enviado por Cristo Jesus. A Ele e a sua Estrela de Origem, gratidão sempre!