Os comentários a seguir foram compilados a partir de entrevistas dadas por PB para os estudantes do Centro Filosófico Wisdom’s Goldenrod, localizado no Estado de NY, nos Estados Unidos, no ano de 1977. Muitas destas entrevistas relatas abaixo, foram realizadas individualmente, enquanto outras foram grupais. PB entrevistava as pessoas individualmente na sala da casa onde ele se hospedara durante sua visita, ou no jardim da mesma. E, realizava entrevistas grupais, indo diretamente à suas casas para compartir as refeições. Outras entrevistas ainda se sucederam quando os estudantes de Anthony Damiani visitaram PB na Suiça, onde ele viveu os últimos anos de sua vida em solitude.

Quando nos encontrávamos perto de PB parecia que ele era um pêndulo gigante que havia parado. E nesse parar o mundo inteiro nasceu. Era como se fosse “a paz que excede todo o entendimento. Paz absoluta, visceral, palpável. E, mais do que qualquer outra, foi essa a experiência que permaneceu sempre comigo, porque é muito difícil encontrarmos com essa paz.

Eu estava tão nervosa; eu não podia acreditar que estava indo me encontrar com esse sábio. Meu coração palpitava, eu era apenas uma náufraga. Passei pela porta  e foi como se eu estivesse andando em um vazio de silêncio. Tudo era muito intenso. Tudo parou. Meu corpo parou; eu não estava mais nervosa e, não estava dissociada. Era uma tumba de silêncio. Sentamos no sofá e honestamente, eu não me lembro de nada que ele me disse. Eu estava mergulhada nesse silêncio. Em seguida, a entrevista terminou e eu me lembro que, de alguma forma, fui deslizando para além do limiar deste lugar de completo silêncio e fui saindo pela porta, sentindo como se fosse atropelada. Sabe aquelas imagens de Lady Macbeth (da peça de Shakespear) esfregando as mãos? Foi isso que pareceu aconteceu comigo. Todo o meu passado veio à tona, mas nem tudo era negativo.  Eu não sabia o que fazer.  Só de pensar fico com lágrimas nos olhos. Levei semanas para voltar ao normal. Foi uma limpeza psíquica. Foi um pouco assustador. Naquele momento minha compreensão sobre a busca, não incluía o “silêncio”. Pensava que a busca era estudar, meditar. De modo que a experiência do silêncio foi muito inesperada. Eu não sabia como entender isso na época. É quase como se naquele silêncio não houvesse espaço para qualquer ego pessoal.

A primeira vez que encontrei PB ele não estava mais encarnado. Tudo se desmoronou: eu fui preso, fiquei sem dinheiro. Não sabia o que eu estava fazendo com a minha vida. Passei uma semana em Boston, na farra com os meus amigos. Mas naquela manhã uma coisa aconteceu. Eu estava dormindo no chão. Eu acordei, deitado de costas e tive uma sensação muito agradável. De repente senti que meu peito se derretia.  Era muito agradável a sensação e, enquanto isso ocorria, vi  um olho fetal gigante, abrindo e fechando com a minha respiração, a qual se encontrava mais calma. E então, de repente, eu estava olhando para o meu corpo, sem sentir quaisquer sensações físicas. Nesse instante um momento de clareza  me atravessou como uma onda e eu escutei estas palavras: “Agora eu sei sem sombra de dúvidas, que eu sou uma alma”.  Então, da próxima coisa que me lembro foi a sensação de estar derretendo novamente e, aos meus pés,  estava PB. Ele apenas olhava para mim. Ele não dizia nada; eu não disse nada. Aos poucos eu voltei para o meu corpo e me senti tão leve e muito bem.

Então PB saiu do restaurante e havia uma luz solar brilhante em seu rosto, e ele apenas ficou ali parado- eu me senti  agitada por cerca de um ou dois minutos, e ele não se mexeu. Ele não olhou para nós, ele apenas ficou ali e esta incrível paz – eu começo a chorar só quando penso sobre isto-  uma incrível paz e alegria desceu sobre mim, desceu sobre mim como um vislumbre e eu estava apenas deslumbrada e tão grata porque eu tinha me sentido tão agitada, mas o meu ego foi desarmado. Eu tive esse momento maravilhoso de abertura e conexão. Pelo resto do dia eu me senti muito iluminada e muito tranquila. Algo poderoso realmente aconteceu comigo.

Eu disse a PB que eu ficava muito deprimido quando o sol se punha, e ele me disse: “Basta ouvir o seu Eu Superior, e você nunca vai se sentir solitário novamente.” Em algum momento a conversa simplesmente parou e nós meditamos. Eu não tenho nenhuma ideia de quanto tempo. Quando acabou, eu estava envolto em silêncio. E paz. E luz. Foi muito profundo. Eu não tinha certeza de como eu poderia dirigir; eu apenas fui. Foi lindo, uma experiência incrível. Eu era muito afortunado. Senti que esta experiência com PB era uma coisa para me satisfazer: encontrar aquele silêncio em mim mesmo. Esta tem sido a minha busca, o caminho que eu estive em toda a minha vida.

No sótão PB encontrou um velho chapéu com abas de orelha. Era como um chapéu para crianças, um chapéu de bobo. Ele colocou o chapéu  e começamos a rir. E então PB começou a rir também, tanto que nós três fomos nos dobrando de tanto rir. Foi um “vislumbre do riso.”

Eu sei que quando as pessoas se reúnem para falar sobre ele, uma atmosfera especial se torna presente,  e esta não é nada parecida com qualquer outra coisa que eu conheça. Isso soa muito fantasioso, mas eu sinto que ele está presente. Tê-lo visto em pessoa era uma coisa – um grande privilégio – mas eu acho que a sua presença há se intensificado ainda mais através de seu trabalho. Ele não está mais no corpo; mas ele está por perto. Eu sinto sua presença todos os dias.

Houve um momento onde ficamos muito quietos no início, estávamos muito quietos, sentados, sem falar. Eu havia lido muitas vezes em seus escritos sobre a Mente-do-Mundo e da mente individual, sobre o que acontece quando você encontra com um sábio e,  a bênção que é encontrar com ele.  Isso é o que estava acontecendo neste momento. Lembro-me de estar me sentindo muito constrangido com os pensamentos que eu estava tendo. Mas eu sabia que aquele encontro valia uma vida inteira. Eu estava muito eufórico. Lembro-me também de ter me sentido  um pouco deprimido uma ou duas semanas, depois do encontro. Mas isto não durou muito tempo. Meu instrutor, Anthony, me disse que era bastante normal que isso acontecesse depois de encontrar um sábio.

Havia um grande silêncio, enquanto estávamos sentados na espreguiçadeira no jardim. Eu havia escutado que este era um processo que PB usava para poder acessar, como numa foto, todo o nosso percurso evolutivo até o momento atual, quando nos encontramos com ele. E, em seguida, ele dissolve o nosso eu ilusório e, então, ele se conecta profundamente de alma para alma. PB escreve, que esta é a bênção do sábio. Mas eu não estava consciente disso. Eu podia sentir a paz em torno dele. Sim, ele brilhava.

Ele sorriu. E quando ele sorriu parecia que raios saiam de sua boca; isso era lindo. E eu relaxei. Antes disso, eu estava pronto para sair correndo para fora da sala.

Eu tive um enorme despertar espiritual ao ler “O Egito Secreto”; isso foi muito antes de eu conhecê-lo. Mais tarde PB me disse que sim, que o propósito dos seus livros era iniciar as pessoas para o que ele chamaria de um vislumbre. Você tem um vislumbre e em seguida, você sabe qual é a meta; você tem uma maneira de orientar-se para o resto de sua vida. O vislumbre está disponível para todos.

Minhas visitas a ele nem sempre foram fáceis. A segunda vez que o vi, lembro-me de ter sentido muita vergonha e auto rejeição. Esta é apenas uma parte do longo processo de ver o ego e seus erros, pelo o que eles são. Estar com ele era como caminhar para dentro do fogo.

Um fato de grande importância para mim se deu quando PB me convidou para tomar um chá em um restaurante. Falamos sobre políticas triviais, etc., e no decorrer de nossa conversa senti, uma espécie de atração magnética incontrolável, para olhar em seus olhos. Fui educado a pensar que olhar nos olhos de alguém é rude, mas eu não podia evitar; eu tinha que olhar para ele. Quando olhei para seus olhos, eu senti como quando você olha para o sol e a retina fica traumatizada. Foi como se um choque elétrico me atravessasse. E então eu tive que desviar o olhar e fingir que nada estava errado. Achei que havia algo errado comigo ou estava ficando louco. Então, nós continuamos nossa conversa e eu olhei para as flores, para o chá, mas novamente senti o impulso de olhar para ele. E, quando eu olhava para seus olhos, novamente tinha essa experiência de levar um choque. Isto se passou seis ou sete vezes. Depois disto, eu definitivamente não fui mais o mesmo. Eu acho que isso é o que se chama de transmissão. Esta é a transmissão múltipla. Essa foi uma outra maneira dele compartilhar comigo sua instrução.

Quando eu entrei pela primeira vez, vi que ele era pura luz, todo o lugar estava cheio de luz. Ele não irradiava luz, ele era luz.

Nós fomos informados que PB viria à nossa casa. Eu lembro de estar fora de mim, tratando de fazer com que tudo estivesse perfeito e, queria que a casa estivesse imaculada. Oh meu Deus,eu estava muito tensa. Tínhamos ouvido falar de quão meticuloso ele era. Eu nunca vou esquecer quando ele veio pela primeira vez e eu estava pensando, acho que consegui, “me enlouqueci limpando a casa”… Ele entrou e curvou-se, olhou em volta e em seguida, caminhou direto para o abridor de lata que eu tinha na parede e ficou olhando. E então ele passou o dedo na superfície do abridor; ele encontrou um pouco de pó nele (risos); não há nenhuma perfeição neste mundo! Eu esqueci. Eu havia esquecido desse pequeno detalhe (do abridor).  Isso foi muito engraçado, mas não naquele momento, claro.

Ele estava muito engraçado naquela noite. Ele continuou rindo e contando histórias, e ele brincou conosco, enquanto sentados à mesa.

Naquele verão havia muita seca, e eu me lembro de alguém reclamando para PB sobre a falta de chuva. PB, então, disse, “porque não pensamos no que fazer para que a chuva venha?” Não havia chovido durante 2 ou 3 semanas. Tudo estava muito seco. Depois do almoço eu o ajudei a colocar seu capa de chuva, e , de repente começou a chover. Todos se olharam e isso foi muito especial.

Antes de ter ido visitar PB em seu apartamento na Suiça, eu havia comprado um carro novo na Europa. E, enquanto eu dirigia para vê-lo, eu ia pensando: “imagina só quando PB ver este carro!” Eu tinha esse tipo de pensamentos… Depois que chegamos em seu apartamento e, havermos nos colocados à vontade, PB disse: “Vamos dar uma volta.” Eu, não havia mencionado  absolutamente nada sobre o carro. Depois que voltei para casa, meu mestre Anthony me disse: “Você deixou ele andar no seu carro? Seu carro vai estragar; PB tem um grande campo elétrico em torno dele.”  E, de fato, eu não tive nada mais do que problemas elétricos com o carro, depois disso.

(Alguns meses depois de ver PB):

Não muito tempo depois que comecei a meditar, fui dominada por um enorme desejo de “sentir” a Deus. Eu sentia que a minha vida a partir desse momento seria absolutamente inútil e estéril, sem algum senso tangível de um Poder Superior. Meus sentimentos de angústia intensificaram-se, até que eu comecei a tremer e chorar, implorando por algum sinal da Divindade. Finalmente, em desespero, eu joguei-me no chão, com minha cabeça no solo, vencida pelo pensamento de que tudo o que eu queria fazer era apenas servir a Deus.

Lentamente, e quase imperceptivelmente, uma sensação de calma tomou conta de mim. Uma delicadeza encantadora flutuou pela minha mente, me confortando e tranquilizando. Em SUA presença, senti que nunca tinha havido qualquer momento em que eu não estivesse servindo a Deus, que Deus estava sempre lá e que minha vida era inseparável do Poder Divino. Uma sensação de luz foi me permeando. A sessão terminou e eu me senti muito aliviada e abençoada.

Naquela noite, enquanto eu estava deitada na cama para dormir, percebi mais uma vez, que uma força além da minha, tomava conta de meus pensamentos. Sob sua influência, senti a necessidade de vividamente e intensamente imaginar a minha própria morte (o que “eu” iria ser depois de não ter mais este corpo ?). Por alguns momentos eu lutei contra a ideia de morrer que me assaltava, mas de repente, eu percebi que era o meu próprio ser que estava tentando se comunicar comigo e, então, eu aceitei.

No momento em que eu aceitei, senti uma sensação crescente de expansão. Era como se eu saísse  do meu corpo ( eu não via nada, apenas tinha uma sensação de estar sendo erguida), eu sentia minha consciência se expandir. Eu compreendia que eu não era o corpo e que eu nunca poderia morrer. Toda a experiência durou apenas um curto período de tempo e, logo após caí num sono profundo que durou várias horas.

Quando acordei, aquele estado de espírito da noite anterior estava mais integrado e profundo. Tudo havia se acalmado e se tornado muito silencioso. Sai de casa, bem cedo de manhã, e foi como se flutuasse sobre mim mesma. Eu podia ver que o que eu anteriormente pensava ser eu mesma, meu ego, não passava de uma série de pensamentos que surgiam em minha mente. Apenas pensamentos. Eu era um pensamento, e ao mesmo tempo, eu me encontrava acima dos pensamentos e olhando para eles.

Ainda mais estranho foi perceber que a MENTE se encontra em toda parte. O “mundo lá fora” e a mente associada com o corpo eram do mesmo material. Havia uma essência que permeava tudo como uma música. Na maioria das vezes nós fazemos tanto barulho que não ouvimos a música. Nos sentimos separados e diferentes do mundo e não vemos que tudo é um só. As coisas são assim como são.

Quando ele faz a oração de agradecimento antes das refeições,  ele invoca a Mente-do-Mundo. Eu tive a nítida sensação de que a Mente-do-Mundo estava mesmo presente. Através dessa prece, algo além do comum foi invocado, algo muito além. Uma outra dimensão pareceu abrir-se em torno dele, em torno de nós.

Clique aqui para acessar outras preces de agradecimento que PB oferecia antes das refeições:

http://www.paulbrunton.org/gracenotes.php