uma apreciação de John Behague
Muitos têm me influenciado em minha busca ao longo da vida pela verdade, mas não mais do que Paul Brunton. Tantas vezes os pensamentos dele refletiram os meus, e tantas vezes gritei interiormente: “Sim, sim!”, quando suas palavras ressoaram em mim. Eu nunca o conheci, mas sinto-me perto dele; visitei os mesmos lugares que ele visitou, conheci os mesmos tipos de pessoas que ele conheceu e experimentei coisas semelhantes. Sua busca foi mais bem-sucedida que a minha, porque ele teve a coragem e a determinação de se aventurar no desconhecido, derrubar cortinas de superstição, derrubar ídolos e dispersar vacas sagradas (romper sagradas crenças).
Sua coragem poderia fazê-lo parecer um gigante entre os homens. Pelo contrário, PB, como ele gostava de ser chamado, era pequeno e elegante. Ele falava baixinho e devagar, ele era gentil na maneira de abordar a vida, vivendo em silêncio e frugalmente. No entanto, ao longo de sua jornada espiritual, esse homem pequeno visitou os lugares mais distantes do mundo. Ele viveu com príncipes, místicos e homens sagrados; instalou-se em palácios e cabanas de barro; e emergiu como uma espécie de guru, com uma mensagem de incrível importância e esperança para aqueles que desejam ler sua mensagem. Espero aqui, resumir algumas de suas descobertas e explicar sua filosofia.
Estranhamente, PB não estava ciente de ter nenhuma missão na vida além da esperança de conscientizar as pessoas sobre o valor de suas próprias almas. Ele não tinha desejo de impor suas crenças sobre os outros. Ele não era missionário e não procurou converter ou compelir com ninguém. Sua principal determinação era ser independente de alianças e autoridades e confiar em suas próprias observações e descobertas, para que pudesse definir as verdades simples das coisas que se tornaram escondidas ou distorcidas ao longo dos anos. Outros poderiam pegá-las ou descartá-las como quisessem. Tudo o que PB esperava era que as pessoas encontrassem dentro de si o que ele havia encontrado dentro de si mesmo.
Ele escreveu vários livros filosóficos, alguns dos quais se tornaram best-sellers, mas boa parte de seus escritos, na forma de cadernos, permaneceu inédita até a criação da Paul Brunton Philosophic Foundation (Fundação Filosófica Paul Brunton), em Nova York. Quando morreu em 1981, uma luz brilhante se apagou, mas suas respostas à pergunta vital “Qual é o significado de tudo isso?” deve fornecer alimento espiritual por muitos anos vindouros.
Formular perguntas era seu usual labor, desde seus primeiros anos como jornalista em Londres e, como eu, a palavra “por quê” estava constantemente em seus lábios. Como podemos vencer doenças, projetar computadores complicados e enviar homens ao espaço, quando não podemos nem explicar porque estamos aqui na Terra? Como o próprio PB disse: “Reunimos informações altamente detalhadas sobre quase tudo que existe sob o sol. Conhecemos o trabalho, as qualidades e as propriedades de todos os objetos e fenômenos da Terra, mas nós não conhecemos a nós mesmos. As próprias pessoas que têm estudado todas as ciências, ainda não estudaram a ciência do eu.”
Ao longo da história, os grandes videntes e filósofos têm se esforçado para encontrar a chave da nossa existência na Terra. Assim como o antigo chefe da estação de trem na comédia inglesa Ghost Train (Trem Fantasma), nos angustiamos com a pergunta “De onde viemos e para onde vamos?”. Somos meros pedaços de matéria destinados a se desintegrar no nada, ou somos criaturas feitas por Deus com almas eternas?
PB chamou esses de os grandes enigmas da vida; eles têm intrigado os sábios de muitas gerações e continuarão a confundi-los por muitos mais. Ele via os seres humanos como figuras duvidosas e desesperadas, caminhando pelos frios desertos deste mundo, rindo cinicamente do nome de Deus, mas acreditava que em todas as pessoas havia um lugar radiante onde a alma poderia se abrigar. Ele viu ambos, o anjo e a fera, como inquilinos interiores em todos os seres humanos.
Em que devemos acreditar? As palavras dos antigos sábios são tagarelices de lunáticos irresponsáveis ou são mensagens de tremenda importância para todos nós? Paul Brunton resolveu atualizar o registro rastreando os videntes de seus dias – swamis, gurus, homens e mulheres santas e iogues – para descobrir a verdade por si mesmo.
Ao longo da minha própria jornada, descobri que é difícil revelar a verdade. Às vezes, um “homem santo”, que milhares de pessoas adoram, acaba sendo uma fraude completa. Às vezes, homens ou mulheres milagrosas provam ser pouco mais que conjuradores. As investigações e viagens de PB duraram vários anos e, no final, ele chegou à conclusão inevitável de que a Divindade está em toda parte; que Deus pode ser encontrado e que Deus é bom. O problema, porém, é que, para encontrá-lo, você precisa, primeiro, se encontrar.
Ele também descobriu que a calamidade nos assolou. Podemos fabricar máquinas e navios maravilhosos de grande porte, e podemos constantemente tentar alcançar as estrelas, mas nossa tragédia é que esquecemos quem somos. Existe uma grande quantidade de provas que nos permitem traçar nossa linhagem até o macaco, mas não podemos lembrar nosso parentesco com o anjo; esquecemos nossa própria natureza espiritual.
PB acreditava que por trás de nossos eus pessoais, reside um outro eu que um vidente antigo descreve como: “Invisível, mas vendo, não ouvido, mas ouvindo, não percebido, mas percebendo, desconhecido, mas sabendo … Este é o seu Eu, o governante interno, o imortal”. Mostramos ao mundo uma máscara superficial, mas nosso verdadeiro eu vive nas profundezas de nossos corações. Suspeito que abrigamos vários eus, incluindo nossas partes boas e más. Basta apenas considerar como os dedicados pais alemães, com profundo amor à família, à música e às artes, apoiaram Hitler em seu massacre de inocentes. Mas mesmo dentro da fera está oculto um ser espiritual.
Você pode descartar esse conceito como absurdo ou imaginativo, mas PB insistiu que “embrulhado nas dobras de nossa natureza se esconde uma joia rara, embora não o saibamos. Ninguém ainda se atreveu a dar-lhe um preço, nem ousará fazê-lo, pois seu valor está além de todo o valor conhecido.”
Então, onde está a prova?
PB estava inicialmente seguro de que você não a encontraria nos livros, apesar de suas muitas manifestações literárias. A verdade é um estado de ser, não um conjunto de palavras, ele afirmou, e implorava às pessoas que começassem a experimentar por si mesmas. A palavra Deus, ele disse, não teria sentido a menos que você pudesse entrar em contato com Ele, no seu interior. As respostas a todas as coisas estão no interior ilimitado do seu próprio ser. Você deve deixar de lado suas dúvidas, inibições, preconceitos e escrúpulos religiosos, e deve dar um mergulho.
Isso é mais fácil dizer do que fazer nos dias de hoje. Muitos de nós estamos perdidos em um mar de confusão e contradição, com forças poderosas nos puxando para um lado e para o outro. Existem as distrações de rádio, televisão e notícias instantâneas. Vivemos em um mundo de ação rápida, com pouco tempo para pensamentos intencionais ou experimentações espirituais.
A maioria das pessoas fica enterrada nessas distrações, mas Paul Brunton era feito de material muito mais firme e determinado do que a maioria das pessoas. Para ele, a questão de onde viemos e para onde vamos era mais importante do que qualquer outra questão na Terra. Ele decidiu resolvê-la. Suas investigações levaram muitos anos e, para algumas pessoas, elas pareciam “caças de ganso selvagem “(uma perda de tempo).
Ele descobriu que o empreendimento interno é o que realmente importa; a verdade às vezes é encontrada em lugares inesperados e em flashes ofuscantes. É a busca que coloca as coisas em movimento. Ela aciona um mecanismo interno que eventualmente leva-nos ao despertar. Gurus e líderes espirituais podem fornecer orientações e pistas, mas a abertura deve vir de dentro.
Algumas pessoas têm sorte – ou são “favorecidas”, como prefiro pensar sobre isso. Meus primeiros momentos de compreensão vieram a mim quando eu estava no Himalaia durante uma jornada de guerra ao Tibete. Esses sentimentos foram confirmados muito mais tarde na minha vida, quando entrei para a irmandade espiritual Subud. Suspeitava que PB também fosse membro do Subud, mas não vi nenhuma confirmação disso.
[Nota do editor: ele não era, mas tinha um forte interesse no movimento.]
No começo, eu disse que pensava que a pesquisa de Paul Brunton tinha sido mais bem-sucedida do que a minha. Nós dois fizemos as mesmas descobertas, mas PB permitiu que suas descobertas mudassem sua vida. Eu não, continuei como jornalista, locutor e professor. No livro “Paul Brunton: Uma Visão Pessoal”, o autor (filho de PB) diz o seguinte: “Uma aura de bondade emanava dele. Seu aprendizado acadêmico foi forjado no crisol da vida. Sua espiritualidade brilhou como um farol. Mas ele desencorajou as tentativas de formar um culto ao seu redor. “Você deve encontrar seu próprio PB dentro de si mesmo”, ele costumava dizer.”
Há pessoas que afirmam que, depois de conhecerem PB, suas vidas mudaram para sempre. Dizem que quando ele entrava em uma sala, ele a enchia de serenidade e que essa experiência, e ele próprio, eram a prova viva de que a iluminação é real. Algumas pessoas também dizem que ele foi a primeira pessoa a trazer ioga e meditação para o Ocidente, bem antes da chegada da Meditação Transcendental e de seus emissários. Nesta era moderna, a sabedoria é um presente precioso que a humanidade não deve desprezar levianamente.
Dos seus onze livros, O Caminho Secreto é provavelmente o mais curto e mais amplamente lido. Neste, ele declara que obter acesso à própria alma não é uma façanha tão rara quanto possa parecer, e tudo depende de acalmar o tumulto da mente e praticar o silêncio mental. Meditação diária e retiros ocasionais permitem que as pessoas acessem suas próprias almas. Ele estava ciente das dificuldades e demandas que tantas pessoas enfrentam em suas vidas diárias. Desligar nossas mentes em meio a tumultos pode parecer impossível, mas pode ser feito. PB alertou, no entanto, que “o controle do pensamento é difícil de se obter. Sua dificuldade irá surpreendê-lo. O cérebro se rebelará. Como o mar, a mente humana é incessantemente ativa. Mas isso pode ser feito.” Em outras publicações, PB oferece mais orientações sobre esses assuntos.
Ele resumiu as conclusões de toda a sua busca em oito palavras: “Fique quieto e saiba que eu sou Deus”. Mas acrescentou que era importante não esquecer o estudo intelectual e a ação correta.
Tudo depende da abordagem pessoal. Quão fortemente você deseja a iluminação? PB é citado como tendo dito a seu filho: “A maioria dos pesquisadores sente que a auto iluminação está distante, uma meta a ser alcançada em alguma vida futura. Mas você pode alcançá-la na mesma vida, se desejar com força suficiente. Afinal, você alcançará isso algum dia, por que não decidir que será mais cedo? Esforce-se para isso! E então, mesmo que você não tenha sucesso nesta vida, os resultados do seu trabalho árduo irão aparecer na próxima vida, portanto valerá a pena.”
Ainda existem muitas perguntas que permanecem sem resposta.
Se Deus é todo-poderoso, por que Ele não intervém para acabar com as guerras e o sofrimento? Por que nenhuma mão se estende do Grande Desconhecido para nos salvar? PB disse que Deus, se quisesse, poderia curar todas as tristezas deste planeta em um instante, mas, se as pessoas devem crescer semelhantes à Deus, devem fazê-lo por vontade própria; caso contrário, todos nós seríamos pouco mais que autômatos.
Essa é uma resposta obvia e típica, e não estou totalmente feliz com isso, porque eu pessoalmente comprovei que a intervenção e a orientação divinas são um fato.
E a morte? Essa é uma pergunta que poucos estão preparados para discutir e que muitas figuras religiosas não têm como responder. As pessoas pensam que o assunto da morte é mórbido, mas a morte é um evento inevitável que afeta todos nós. PB nos diz que a morte e a mudança são as condições finais da vida nos mundos material e mental, mas que a realidade que podemos encontrar dentro de nós mesmos desafia o tempo e é imortal. A morte para o homem ou a mulher que conhece a verdade significa apenas um novo nascimento ou reencarnação. PB diz: “Tudo o que fazemos retorna para nós; portanto, devemos ter cuidado com o que fazemos aos outros, porque a lei do destino está sempre em funcionamento, sempre devolvendo o que enviamos, pagando-nos em nossa própria moeda.”
PB tinha tantas coisas instigantes a dizer. Ele disse uma vez: “O mundo material é a grande câmara letal da alma. Somente os heróis espirituais podem despertar a si mesmos, o suficiente para escapar de seu efeito entorpecente sobre a consciência.”
Quão grande herói é você?
“É a mente que pode libertar uma pessoa novamente. Isso não é feito fugindo para mosteiros ou montanhas e passando a vida lá. Isso é feito usando a mente para investigar sua própria operação.” PB deveria saber, mas você deve admitir que o tempo que ele passou em mosteiros e montanhas não foi um desperdício de tempo.
“Quando entendemos que este mundo inteiro e não apenas uma parte dele – a parte que nos agrada – é uma manifestação divina, entendemos que Deus também deve estar entre os criminosos, também. Devemos encarar os fatos com bravura e perceber que a vontade divina está afinal por trás de todo o universo e, consequentemente, também deve estar por trás do horror, da agonia e da maldade.”
Tivemos que jogar o contrapeso da mente nas profundezas do eu. Quanto mais fundo cair, mais rico será o tesouro. “Cada pessoa tem uma porta privada que se abre para o brilho eterno. Se não nos apressarmos e abri-la, nossa escuridão estará autocondenada.”
Ao concluir a missão, diga-se: “Toda a linguagem é irremediavelmente inadequada, indigente, quando confrontada com essa grande experiência que um dia aguarda toda a raça humana e, agora mesmo, aguarda todo indivíduo que a procura de maneira verdadeira e perseverante”.
O que é preciso? Para provar sua divindade, você precisa dedicar um pouco de tempo a cada dia para se sentar em um canto quieto, calar todas as distrações, se retirar e encontrar a paz interior. “Precisamos cavar, com a broca da mente, por baixo da atração do mundo físico e tentar encontrar a realidade eterna que se esconde. Então o segredo da vida, que confundiu os intelectos brilhantes de pessoas ilustres, será descoberto e se tornará nossa alegre possessão.”
Os livros, sim, fornecem algumas respostas, e a leitura de O Caminho Secreto o ajudará a encontrar a chave para aquela tão importante porta privada, que uma vez aberta, mudará sua vida.